Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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ças, os noivados e casamentos, a colheita da semente, as lustrações dos roçados, e outras, tudo só se fazem com a fumaça do tabaco. (Jacó Rabbi, na relação da viagem que fez aos tapuias.)76 Esta festa se realizava depois da colheita e replantio do milho, como se vê aqui, no dia 1° de julho. Nesta data, furavam-se as orelhas, os ouvidos e os lábios das crianças e daqueles que se queriam casar.77 Não posso compreender o que está aqui escrito e o que se segue: que estas moças e as outras que deviam casar-se, juntamente com seus noivos, fossem vestidas de folhas, prontas para serem coroadas; isto não é novo, visto como as nações mais polidas da terra, como os gregos e os romanos, coroam-se de folhas e de frutos nos dias de contentamento e de festins. Mas, como podia ser que, cobertos de folhas, saltando e cabriolando, suas vestimentas não caíssem aos pedaços, isto se lê apenas neste autor. E, depois, como coroar-se de flores de ervilhas e favas, se a colheita das favas e das ervilhas era feita nesse tempo? Certamente, foi um engano, tendo todos se vestido e coroado de plumas de diferentes cores, como diremos adiante.78 Ninguém me pôde dizer, ainda, que semente era essa de corpamba e nada li a respeito nos autores que escreveram sobre o Brasil.79 Papaia ou mamoeiro, que os portugueses chamam de mamão, tem 20 pés de altura, dois de grossura e a haste acinzentada; as folhas são redondas e cinzeladas, da largura de um pé; as flores são pequenas e invertidas, cor de cera; os frutos, em forma de seios de mulher, do tamanho das nossas cunhas, de um amarelo esverdeado, tendo a polpa amarela; seu gosto aproxima-se do dos melões. (Marcgrave, liv. 3º cap. 6º) Não encontro nos herbários do Brasil o Iampapée, a não ser iampaba, que se aproxima deste nome, do qual fala Piso, no liv. das Faculdades dos Simples do Brasil, cap. 15°; suas folhas são do comprimento de um côvado e produz uma flor semelhante ao narciso, com o odor do cravo; o fruto é como a laranja, de muito bom gosto. No que respeita à pacova, nosso tradutor procede como os espanhóis, que trocam, na pronuncia, o b pelo v. É a pacoba, (banana), descrita por Matthiole, Clusius e Dodonaeus; Avincernes chama-lhe musa. Suas folhas têm seis pés de comprimento e dois de largura; são agaloadas de um pequeno nervo todo em redor; um longo ramo nodoso, bem no meio do tronco das árvores, produz um fruto vermelho, da forma de um ovo, dividido e amontoado como a pinha, com a diferença de consistir em quatro pequenos pedaços, que não são duros, cobertos de casca semelhante à dos figos. (Piso, no livro citado, cap. 28º)80 Os outros dizem plumas, acertadamente, pois se fossem folhas pregadas com goma sobre o corpo, com tanto artifício e disposição, seria tempo perdido, pois elas poderiam romper-se no primeiro encontro, ao passo que as plumas resistiam a todas as suas cabriolas e saltos. Os homens, diz Marcgrave, liv. 8°, cap. 6° e 12°, coroam-se com plumas de guará e ganinde ou carindé, deixando cair sobre as costas as maiores plumas das caudas da arara, que enroscam com o seu cabelo, para impedir que caiam, quando se mexem. Outros contentam-se com um fio de algodão, em cuja extremidade ligam estas plumas, atrás do pescoço; elas são verdes, amarelas, pretas, vermelhas ou azuis e freqüentemente misturadas; este cocar chama-se acambuacaba. Há alguns que, com goma, cera, mastique ou mel selvagem, arranjam em bela ordem e disposição, tanto sobre as suas cabeças, como sobre o resto do corpo plumas de diversas cores: chamam isto de aguana. E fazem até capotes destes tecidos, guará-abuçu. Se todo o artifício está sobre o corpo, chamam a esta moda de pregar-lhe as plumas de agamangui, e às voltas das mesmas, cingindo os braços, aguamiranga, e às que estão no pescoço, papixoara. Ligam as maiores plumas, tiradas das caudas de avestruzes, araras e aracucaru, em volta do corpo, para cobrir suas vergonhas,