Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

Página 126


descrevemos, falando atrás, dos palmitos, a pindoba, e dissemos que era uma espécie de palmeira, tendo, como o coco, frutos abaixo do tronco, que dão como raízes, cada raiz sendo constituída, freqüentemente, de cem nozes, cada uma da grossura de um ovo, tendo a mesma figura. Urucuruíba, em Marcgrave, liv. 3°, cap. 9º Urucuruíba é semelhante à precedente, como também o fruto, porém menor, não tendo senão o tamanho de uma ameixa. locara é, também, uma espécie de palmeira semelhante à última, tendo as nozes como as do coco, com a diferença de que não são maiores que as nossas nozes comuns. Mas para o Diabo era preciso um canudo do comprimento de uma meia lança, e, na ponta, uma noz de coco, chamada pelos tapuias inajguaçu, e a árvore inajaquacuíba; pelos portugueses, coqueiro. Esta árvore tem o tronco direito, da grossura de 6 a 7 pés em redor, altura de 50; a parte de cima do tronco é igual em grossura à parte superior;é maravilhoso como esta árvore pode resistir aos ventos, não tendo senão pequenas raízes, que não se aprofundam na terra. Sua haste é cinzenta, marcada de pequenos círculos. Não tem ramos mas somente um leque de 15 ou 20 grandes folhas de três pés de comprimento, da largura de duas polegadas, semelhantes às das nossas gladíolas, de um verde vivo, reluzente, atravessado ao comprido de pequenas linhas delicadas, de um verde mais desbotado. De cima destas folhas sai uma espécie de vagem, como a da ervilha, ou fava, do comprimento de dois pés, a qual fendendo-se, abre diversos ramos do comprimento de meio pé ou de um pé, carregados de pequenos corpos triangulares, donde saem, primeiramente, flores, e logo depois nozes; as flores são amarelas e as nozes de cor arruivada, da grossura da cabeça de um homem;jamais deixam aparte superior do tronco sem que cresçam outras em seu lugar. Seus cocos são cobertos de filamentos ou nervos muito serrados; se abre-se uma destas nozes, antes de estar madura, tira-se daí mais de uma chopina de excelente suco para beber--se. Abrindo-se, quando está maduro, encontra-se o suco coagulado, com melhor gosto que o da amêndoa. Vários autores escreveram sobre o uso desta árvore e frutos, notada-mente nas índias Orientais, assim como a respeito de suas virtudes e propriedades. François Pyrard dedicou-lhes um tratado especial, que inseriu nas Viagens dos Franceses às índias; Piso, no liv. da Faculdade dos Simples do Brasil, cap. 10º; Marcgrave em sua História das Coisas Naturais do Mesmo Brasil, liv. 3º, cap. 14°; François Ximenes, ao falar das plantas que crescem no México. Os índios fazem com esta nozes belíssimas gôndolas e os tapuias, cachimbos que enchem de tabaco, tanto para seus feiticeiros ou médicos, como para o Diabo, e não realizam nenhuma cerimônia sem esta fumaça, que lhes serve de perfume, de propiciatório, de incenso, de purificação e, geralmente, de remédio em todas as doenças. O Diabo, qualquer que seja a ocasião em que é consultado, toma o cachimbo e sopra a fumaça sobre os selvagens, e o sacrificador ou feiticeiro faz o mesmo. Se é preciso ir à guerra, estes sacrificadores caminham na frente, saltando e cabriolando, ora avançando, ora recuando, e de tempos em tempos sopram a fumaça de tabaco sobre os selvagens, acreditando que ela lhes transmite força e vigor contra seus inimigos. (Jean de Léry, em sua América, cap. 18º) Se há doentes, os mesmos mágicos, após esfregarem seus corpos com a mão, perfumam-nos com a fumaça do tabaco. Jacó Rabbi, em sua relação dos tapuias, conta a seguinte história: o regulo Drarug, sentindo grandes dores nas costas e nas coxas, sem conseguir alívio de seus médicos, mandou pedir a um senhor seu vizinho que lhe enviasse os seus. Este enviou-lhe três; o primeiro, tomando um cachimbo com tabaco, perfumou todo o corpo do doente e depois mordeu-lhe as orelhas com os dentes, e chupou-as de tal modo que era como se as devorasse depois, mugindo como um boi, escarrou na mão e no esputo havia forma de uma pequena enguia; esta, disse, era a causa da doença do rei. O segundo médico agiu como o primeiro, mas agarrou-se ao ventre do enfermo, mordendo-o chupando-o, e tirou da axila deste uma pedra branca, que se aproximava da figura de uma rosa. O terceiro, tendo feito a mesma coisa nas costas, vomitou não sei que, semelhante a raízes. Os batismos, isto é, as cerimônias com as quais se dão nomes às crian-