sos pepinos, alongadas e brancas, que é a cor do fruto. Léry, no cap. 13 de sua América, diz que os tupinambás, povos do Brasil, têm abóboras que chamam maurongon, redondas e melhores de comer que as nossas. Eles têm, além destas aqui nomeadas, abóboras ou cabaças tão grandes e profundas que lhes servem como que de armazém, para esconder todos os utensílios caseiros e colocar suas bebidas, mais, raízes, plumas e adornos. Marcgrave, no liv. 8º de sua História Natural do Brasil, cap. 12°, diz que leu na relação de Jacó Rabbi que na ramada ou cabana de Janduí havia uma destas abóboras sobre uma esteira, sendo proibido olhar dentro dela e até aproximar-se dela; quando estão fumando, podem soprar fumaça dentro, como por direito de reconhecimento. Aqueles que vão à caça, à pesca e à procura de mel, colocam tudo que têm perto da referida abóbora, até que Janduí lhes permita levá-lo. Nesta abóbora não há outra coisa senão pedras, chamadas quentura, e frutos titzsheinos, dos quais eles fazem maior questão do que do ouro. É nestas cabaças que levam ou acreditam levar o Diabo, quando fazem sua grande festa, como o nosso autor descreverá mais abaixo. O tradutor deste me fez presente do grão das referidas cabaças, que em nada diferem da semente das nossas de pés compridos e flores, mas eu não vi o fruto.72 A colheita ocorreu, neste ano de 1648, no 27° dia de junho, três dias antes de sua grande festa; então, como Janduí dissera antes a Baro, ele cessaria de fazer correr a árvore, e não antes. Estes divertimentos consistiam somente em danças, bebedeiras e tomadas de tabaco, e eram seguidos do batismo das crianças, pela abertura do lábio inferior e furos nas orelhas: e, ainda, pelos noivados e casamentos dos rapazes, aos quais furavam as orelhas, estando o Diabo e os feiticeiros presentes.73 Os brasilianos só adoram o Diabo; não que daí esperem o bem, mas porque o temem, e por esse motivo, lhe oferecem sacrifícios e o invocam, como será dito mais abaixo. Também, como padres e médicos, que curem os doentes do espírito e do corpo, só dispõem de feiticeiros e mágicos, ou homens que se dizem tais; chamam-lhes pajés e caraíbas; estes imploram a ajuda do Diabo, indagando-lhe o que acontecerá no futuro, seja em relação a guerra, seja em relação às doenças.74 Este nome de Houcha, significando o Diabo, não se encontra nos dicionários da língua do Brasil, relacionados pelo Senhor de Laet, no liv. 17° das índias Ocidentais, cap. 12° e liv. 15°, cap. 2º; nem por Marcgrave, no liv. 8º, cap. 9º; nem no liv. 15° cap. 1 1º, do mesmo autor onde trata da religião dos brasilianos, embora nos referidos lugares se leiam nomes diferentes de diabos, como de Curupira, que seria o Diabo das montanhas, Machachera, os dos caminhos, Inrupari, Anhangá e Taguaí. Pode ser que Houcha seja o Diabo das matas, visto que não aparecia nem dava resposta senão no mato. Marcgrave, em lugar de Inrupari e Taguaí, escreve Iurupari e Tuguaíba, aos quais acrescenta Temoti e Taubirama. Léry, cap. 16°, diz que os tupinambuses ou tupinambáses chamam o Diabo Onhã e Caajerre.75 Marcgrave, no liv. acima citado, cap. 7º, diz que os brasilianos, tendo feito secar a folha petum do tabaco ou tobaco, ao fogo, e reduzido as folhas a pó com os dedos, cujas folhas são chamadas petimaoba e a erva petima, servem-se do fruto de pindoba, irucuruíba e iocara, cortam a extremidade, esvaziam-nas, depois fazem um buraco do lado, no qual introduzem um pequeno cano de madeira furado. Chamam este instrumento de petimuaba, nós o chamamos cachimbo. Fazem-nos como nós, de argila cozida no fogo, à moda de nossos cachimbos, dos quais, mesmo, lhes são levados grandes quantidades; os brasilianos chamam-nos amrupetimbuaba, mas os tapuias, achando-os muito pequenos, fazem-nos com o tubo grande como o polegar, tanto de madeira como de argila, e do lugar oco, em baixo, onde colocam o tabaco, grande como um punho, tiram a fumaça como nós, e a expelem pelos buracos que têm nas orelhas e no queixo, o que é horrível de ver-se. Dissemos que colocavam na ponta de seus canudos nozes de pindoba, urucuruiba e iocaré já
Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo