Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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57 Não vi nenhum nome que se aproximasse deste, seja de árvore, arbusto ou ervas, em Marcgrave, senão o copuba, que tem tolhas de meio pé de comprimento e bagas, assemelhando-se ao loureiro. Segundo é relatado pelo dito autor (liv. 3" , cap. 149).58 Falamos atrás no número 14, das diversas espécies de porcos do Brasil, mas não se encontra aí nenhum desse nome. É possível que se trate de um daqueles que os tupinambás chamam, segundo Léry, cap. 10° tapiraçú, (tatuaçú"), tajaçú.59 (No texto, falimos e penema). O Senhor de Laet, liv. 16° das índias Ocidentais, cap. 6°, no qual descreve a costa do Brasil desde o Rio Grande até o Ceará, segundo Figueiredo, faz-me crer que se deve ler, aqui, Salinas e Ipanema e não Salmes e Ypamene. O rio próximo de Guamare, na Capitania do Ceará, é chamado pelos portugueses Rio de Salinas, e pelos selvagens Caru-Aretuma. Nos mapas do dito Laet, Salinas de Caruarama, notando-se um pouco mais acima, na direção ao Ceará, o Rio Ipanema. Ele acrescenta que se pode tirar muito sal do dito Rio Canarama, que chama, também, de Carvvaretame, exceto nos meses de chuvas, que são maio e junho, motivo pelo qual é chamado pelos portugueses de Salinas. Às margens destes dois rios, no governo do Ceará, foram assassinados Jacó Rabbi, com os seus homens e os tapuias súditos de Janduí.60 Este Camarão era um capitão dos portugueses, que veio da Baía de Todos os Santos para o Ceará, com os homens que pôde reunir, em 1645, a fim de socorrer os seus, que se tinham retirado para terra firme temendo os holandeses. Falamos, atrás, do governo da Paraíba, que está entre o do Rio Grande e Itamaracá. A Várzea é um terreno plano, abaixo do Recife, no continente, residência dos tapuias chefiados por Vvajapeba. O Senhor de Laet, no liv. 16° das índias Ocidentais, cap. 2º, diz que esta região da Paraíba foi primeiramente descoberta pelos franceses, daí expulsos pelos portugueses, no ano de 1584, Que o lugar onde eles desembarcaram-se chama ainda Porto Francês, e o cabo vizinho, Cabo Branco, à altura de 10 graus e 45 minutos ao sul da Linha. Daí até o Rio Paraíba, em cuja embocadura os franceses tinham construído um forte, vão duas léguas; este forte de que aqui se fala foi depois aumentado e fortificado pelos portugueses, sobretudo após a tomada da cidade de Olinda pelos holandeses. O Senhor Moreau tradutor da presente relação, disse-me que ele se chamava Forte da Paraíba e hoje é chamado de Santa Margarida; dista 30 léguas do forte do Recife, por mar. Laet acrescenta que, próximo deste forte, os portugueses têm uma cidade muito bem fortificada chamada Filipe. Existem nesses lugares diversos engenhos de açúcar. Abaixo destes fortes e vilas, habitam os tapuias, chamados potiguares, os quais, a meu ver, estavam, no momento desta relação, do lado dos holandeses, visto dizer-se que Jacó Rabbi, chefe holandês, tinha deixado os cães de Baro no referido forte, do qual, assim, era preciso que os ditos holandeses fossem senhores no ano de 1647.61 Deve-se ler cobra de veado, chamada pelos selvagens boiguaçu e jibóia. Esta serpente, da grossura de um homem, de vinte e três a vinte e quatro pés de comprimento, é mesclada de diversas cores realçadas a modo de um pano de ouro. O Senhor Martene, comissário de guerra nesta cidade, possui uma pele inteira. Sua carne é de bom paladar. Ela devora homens e animais; vigia o caminho escondida nas capoeiras, de onde se levanta sobre a sua cauda e joga-se sobre os passantes; enrosca-se em volta de seu corpo, derruba-os e chupa o seu sangue, quando não os devora; outras vezes, lança-se do alto dos ramos das mais fortes árvores sobre tudo aquilo que passa, e depois de envolver homens e animais, aperta-os até sufocá-los. A mordida deste animal cura-se facilmente; os anatomistas dizem que ela tem as costas e as vértebras sólidas. Sua descrição e figura estão em Guilherme Piso, no 3º liv. da Medicina do Brasil.62 Marcgrave, no liv. 8º da História Natural do Brasil, cap. 8°, fala deste modo de assar os animais grandes pelos brasilianos e tapuias, acrescentando apenas que depois de ter es-