Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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rebentarem as suas trombetas para fazê-las; creio que eles não sabiam entoar as nossas trombetas, estando acostumados a servir-se, na guerra, de trombetas feitas de ossos humanos, que os latinos chamam tibiae e eles canguaca. Chamavam os que eram de uma só concha, quata pi guaçu; as de cana, numbigoaçu e membiaparas (membitarara); e as nossas de bronze, de itamembi; (Marcgrave liv. 8º da História Natural do Brasil, cap. 10°, e Jean de Léry, cap. 14° de sua América, dizem que não era dos ossos das pernas que eles tinham comido que faziam as trombetas para servirem-se delas na guerra, mas de madeira, em forma de oboé do comprimento de cinco a seis pés. que eles chamavam inúbia; dos ossos daqueles que tinham matado e comido, faziam flautins e flautas.44 Assim, este exercício de correr a árvore [tronco] durou até o último dia de junho, no qual caía a festa da qual ele fala, como veremos, no referido dia.45 Piso e Marcgrave, que deram as figuras das árvores do Brasil, não mencionam esta.46 Jacó Rabbi, na relação que fez dos tapuias, diz que nos dias de festa, de núpcias e de correr a árvore, os rapazes pintavam seus cabelos de um pó vermelho e todo o resto do corpo de diversas cores, sendo as principais o preto, o vermelho e o amarelo. O preto se faz com o suco da fruta de genipapo ainda verde, e o vermelho, de urucu. Eles pintam linhas bem ordenadas sobre seus corpos, como nós arranjamos passamanarias e galões sobre as nossas vestimentas, o mais das vezes brancos.47 Lê-se, de fato, em Marcgrave, no liv. 8º, cap. 12° da sua História Natural do Brasil, este modo de correr a árvore, mas não que se corresse, como aqui, caçando ratos. Eis suas palavras traduzidas em nossa língua: "A um tiro de pedra da terra ou cabana de Janduí, há dois troncos de árvores; estando o povo dividido em dois bandos, cada bando escolhe um dos mais fortes do seu lado, que carrega sobre os ombros um destes troncos e corre o mais depressa que pode, levando-o até tão longe que aqueles de seu partido reconheçam que ele está cansado; então, outro o sucede, sem nada parar, e leva-o, também, o mais longe que pode; enfim, eles se socorrem um ao outro, até que, chegando ao fim destinado, o descarregam. O partido daquele que mais depressa atingiu o fim, é declarado vitorioso e os vencidos são ridicularizados."48 É muito difícil saber a idade dos brasilianos, visto que não sabem escrever. Chamam o anos de ceixu (ceucy) [caju], do próprio nome que dão às Plêiades, de cujo nascimento datam o início do mesmo. Para lembrar-se de sua idade, cada um deles coloca em um lugar secreto uma castanha de acaiuti (acajuti) e intemboera, e conta-as quando quer saber quantos anos tem. (Marcgrave, liv. 8°, cap. 5°.)49 Admira-me que Piso e Marcgrave, que escreveram sobre as plantas do Brasil, não tenham feito qualquer menção desta, tão querida e estimada não somente dos Brasilianos, mas de toda a Europa, onde é muito conhecida; vi-a no jardim de meu pai, tendo de oito a nove pés de comprimento, as folhas aproximando-se da grande consolda, mas muito maiores, sendo a flor amarelada e semelhante à da relva-da-rainha. Uns chamam-na tobaco, outros tabaco, outros petun. Nada há tão comum, eis porque nada mais direi a respeito, tanto mais que vários autores escreveram livros inteiros sobre a sua forma, virtudes e modos de aparelhá-la.50 Os brasilianos chamam esta árvore de ianipaba, os portugueses, jenipapo; ela é semelhante ao freixo, tendo a haste cinzenta, os ramos e o tronco frágeis. As folhas são da forma de línguas de bois. Sua flor parece-se com a do narciso branco, tem o perfume do cravo e aparece em março. Seu fruto se assemelha à laranja, só que a haste é tenra e de cor cinzenta. O que dela sai é refrigerante e azedinho, bom de beber-se. O fruto ainda verde dá uma cor azul escuro, assim como a madeira. Os ramos da árvore com o fruto estão representados em Marcgrave, liv. 3°, cap. I. Jean de Laet acrescenta que esta árvore é cha-