Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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cavo e escorregadio à palma da mão, a fim de dar mais força ao golpe e fazer sair a flecha ou dardo com maior facilidade. Utilizam, ainda, clavas feitas da madeira preta de iapema, longas e achatadas. Colocam franjas de algodão ou de plumas em volta e na ponta do cabo, e uma borla pendente do meio da clava, chamada atirabebe e iatirabebe. (Marcgrave, liv. 8° de História Natural do Brasil, cap. 10°. Léry em sua América, cap. 14º)26 Não encontro este nome em qualquer outro lugar, embora Marcgrave, liv. 6, cap. 6, faça menção de várias espécies de ratos. Léry, em sua América, cap. 10°, diz que estes ratos selvagens são ruços, do tamanho dos nossos bichos de cozinha, e mais que tem a carne do mesmo gosto que o coelho de coelheira. Existem grandes como o coelho, cinzentos e pretos, que têm dentes muito perigosos.27 O mais não é outra coisa senão aquilo que nós chamamos trigo da Turquia, que dá tão bem na Europa quanto nas índias Ocidentais, sem exigir qualquer cuidado; há o branco, o cinzento, o amarelo, o vermelho, o negrejante, o purpurado e o misturado de diversas cores. Nada mais direi a respeito, visto que esta espécie de trigo é muito conhecida entre nós. Sua descrição, seu uso, tanto na comida como na bebida, medicinas e virtudes são declaradas pelo Senhor de Laet, liv. 7º das índias Ocidentais, cap. 4°;e o modo de cultivá-lo e plantá-lo, por Jean de Léry, cap. 9 de sua América. Os portugueses que estão no Brasil chamam o mais de Milho, significando esta palavra, também, o milho ou milho miúdo das índias.28 O Senhor de Laet, homem sábio, enviou-nos muitas vezes favas e feijões de diversas espécies, que lhe foram enviados do Brasil para Leiden, onde ele mora. Vi alguns do tamanho de uma polegada, chatos, brancos de leite, outros da cor de castanhas, do mesmo tamanho, e outros, ainda, de cor marchetada de linhas pretas; outros, vermelho descorado, da cor da carne; outros, pretos. Destas grandes espécies, nenhuma produziu frutos; umas apodreceram na terra, outras, depois de terem brotado hastes e folhas, foram surpreendidas pelos frios de outono, quando se preparavam para mostrar suas flores. Laet fala deles na descrição das Índias Ocidentais, liv. 15°, cap. 10°, e aí coloca as figuras, onde se refere a uma espécie de ervilha do Brasil, que não é de todo redonda, e de pequenos feijões, sem outro nome que aquele pelo qual os portugueses os chamam, fava brava, isto é, fava selvagem. Temos dela na nossa horta; é da cor da sopa com vinho, e cor de carne; produz flores das mesmas cores e também de cor púrpura escura, cujos frutos são quase todos pretos. O Senhor Moreau, tradutor da presente relação, fez-nos presente dela, assim como de outras grandes, como as comuns do nosso país, vermelhas, marchetadas de linhas pretas em oval, que dão uma flor da cor da flor de romã. Diz ter visto no Brasil ainda maiores, tendo flores vermelhas e as favas de um azul pardacento; brancas e amareladas, tendo flores da mesma cor; outras ainda, maiores, negrejantes puxando para o amarelo, tendo as vagens a largura de duas, de seis a sete polegadas de comprimento, cobertas de uma fina camada avermelhada. Outras são salpicadas de manchas e figuras alteadas, formando uma meio-corcunda, de diversas cores.29 Vide a nota 6.30 Vide a nota 15. (Laet, liv. 15 das Índias Ocidentais, cap. 26).31 O sertão é uma espécie de região particular no continente, que está atrás de Pernambuco. Esta palavra significa boca do inferno, segundo me disse o nosso tradutor. Aí existem as mais belas matas do Brasil. Diversas nações de tapuias habitam esta região; são amigos dos portugueses, a saber os guyauas, os taicuiuios, os coriuios, e os pigruuos. (Jean de Laet, liv. 15°, cap. 3°.)32 O suaçu é uma raiz que dá naturalmente nas matas; para melhorá-la é transplantada e cultivada em roçados e hortas, e então se chama mandioca. Falaremos sobre ele mais amplamente no número 34, adiante.