Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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agiu sabiamente para avisar aos homens que se desviem de sua passagem e evitar sua mordedura, que é mortal. Jean de Laet, liv. 15 das Índias Ocidentais, cap. 6. Marcgrave, no Livro dos Quadrúpedes e Serpentes, cap. 14. Vi a pele de uma destas serpentes entre as mãos do Senhor Moreau, tradutor da presente Relação, que a deu, pouco depois, ao Senhor Millotet, advogado geral no Parlamento de Dijon. Os selvagens reduzem-nas a pedaços para assá-las. Os espanhóis, por causa das campainhas que existem na cauda, denominam este animal de cascavel, isto é, campainha. Chamam-lhe, ainda, tangedor, segundo Guilherme Piso, no 3° liv. da Medicina do Brasil, cap. I, onde reproduz a figura da serpente com uma outra espécie de cascavel, com o comprimento de doze pés, chamada pelos naturais do país de sucurucu, a qual é muito venenosa.23 Creio que struo é uma palavra holandesa, correspondendo a strutio dos latinos, ema dos portugueses, nhanduguaçu dos brasilianos, autruche em francês; este pássaro não é tão grande nem tão largo quanto os autruches que existem na África; tem os esporões dos pés semelhantes aos dos outros pássaros, apenas que são pouco curvados para a frente, com as garras pretas. Têm o colo curvo como o da cegonha, com o comprimento de dois pés, o bico um pouco longo, apertado e recurvo, as asas pequenas e inábeis para o vôo; corre tão depressa que dificilmente pode ser apanhado pelos cães; suas plumas são cinzentas, como as dos grous, belas, longas e delicadas sobre as costas, e estendem-se além do uropígio, servindo-lhe de cauda. Engole tudo quando se lhe apresenta, não importando a dureza, mas não o digere; vive de frutas e de carne, gosta de comer; é freqüentemente visto nos campos do governo do Rio Grande, raramente em outra parte. Marcgrave liv. 5, de sua História Natural do Brasil, cap. I.24 Os brasilianos chamam a este animal tatu e tatupeba; os espanhóis, armadillo; portugueses, encoberto; ele tem, segundo relata Charles de L'Écluse, em seus Exóticos, o tamanho de um leitão, de cor cinzenta, o corpo todo coberto de escamas de osso como se fossem lâminas, quase a modo do rinoceronte, dispostas em bela ordem e com uma maravilhosa variedade de formas, tão duras que tornaram rombudas as pontas das flechas. Escava rapidamente a terra e retira-se para os buracos que fez, como as raposas e texugos de várias espécies; não pode ser apanhado facilmente, a menos que se derrame água em sua toca; tem a carne branca e do gosto do capão; suas escamas servem para fazer escarcelas e outros objetos. Tem a cauda como a do cão, as pernas como as do ouriço, o focinho do mesmo, apenas mais comprido e delgado; seus pés dianteiros têm quatro garras, os traseiros cinco, cada um; suas orelhas são pontudas, cartilaginosas e sem pelos. Vive de batatas, que são uma espécie de trevo, vermelhas por fora, brancas por dentro, excelentes para comer-se, de melões e outras plantas. É apanhado como o texugo e o coelho, fazendo entrar algum cão rasteiro em sua toca e escavando tudo em volta até que ele seja descoberto; então, os cães ou os homens matam-no facilmente. (Marcgrave, liv. 6° da História Natural do Brasil, cap. 8°) Há, ainda, uma outra espécie deste animal, porém menor, que os brasilianos chamam de tatu-etê, os portugueses de verdadeiros; e uma terceira espécie, que os selvagens denominam de tatu-apara.25 As armas dos tapuias ou tapoios são o arco de madeira dura, que eles chamam guirapara e Urapara e a madeira que é feito de guirapariba (guarapaiva) e Urapariba, os portugueses de pau d'arco; as cordas do mesmo são de algodão torcido e chamam-se guirapacuma. Sua flechas são de canas, vuba. A ponta, farpada em baixo, é de pau-brasil e chama-se anha; é farpada ou dentada de diversos modos. Eles denominam as que tem várias pontas vutapoaeta. Algumas têm uma espécie de dentes, outras são feitas em forma de serras. Existem outras, ainda, às quais eles apõem dentes de peixes iperu. A flecha toda inteira do junco taquara é chamada íurupara. Servem-se, também, de flechas ou dardos, que lançam com grande vigor, sustentando-as por meio do arco; ligam um pequeno pedaço de madeira