Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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Rio Grande, que é um dos mais notáveis da costa, tem seis léguas de curso, como refere George Marcgrave, liv. 10 da História Natural do Brasil, cap. I. Não sendo tais rios profundos, senão em suas embocaduras, passado o inverno pode-se vadeá-los duas léguas mais acima.6 São cercados, fechados por cercas vivas ou mortas, trabalhadas à pá, onde se semeiam as cabaças, abóboras, pepinos, favas e ervilhas, e onde se plantam diversas raízes e arbustos do país, servindo para a nutrição do homem. Assim como a mandioca, a macaxeira, a manipuera, o ananaz, a nana pacoba, batatas, amoras e carás.7 São os campos de Caatingas próximas do Rio Grande e dos limites do governo de Porto Seguro, habitadas pelos tapuias chamados tupanucos, segundo Herrera; mas esta divisão é muito geral; nós a subdividiremos aqui: chamamos os tapuias perto do Rio Grande ou Potengi de maribucos.8 No texto, Potegi. Houve equívoco na tradução, segundo já dissemos, e deve-se dizer Potengi, segundo a opinião mais comum. Vide o Senhor de Laet. liv. 16. das índias Ocidentais, cap. 5.9 As chuvas são tão comuns neste país, que George Marcgrave no liv. 8. da História Natural do Brasil, dedicou-lhes um capítulo especial, onde anota todos os dias em que choveu nesta província, no governo do Rio Grande, nos anos 1640, 1641, 1642, de onde se vê que três quartos dos dias foram chuvoso. Deve-se observar que no mesmo livro, cap. 4, o referido Marcgrave fala sobre a narração de Jacó Rabbi, à qual nos reportaremos adiante, segundo a qual pode-se seguir o Rio Grande, de sua embocadura até à nascente, em seis horas de caminho. Desta embocadura até à do Rio Mupéo há nove léguas, do lado do meio-dia, e do lado do norte, três léguas mais alto, que o dito Rio Grande; o Rio Oirag tem cinqüenta léguas de curso e o Mapreucauch Maxaranguape ainda mais; Ipotinge não está senão a quatro léguas do dito Rio Grande, e o Uguasu a dezessete; mais ao alto estão as grandes salinas de Vnapabuba, sendo que nenhuma delas está ainda registrada em nossos mapas, porque não foram conhecidas senão há seis ou sete anos, pelo dito Jacó Rabbi. Este, falando do Ipotinge, fez-me duvidar se não será o mesmo que é chamado pelo nosso Baro de Potegei e que não seja outro que o Rio Grande, visto que Marcgrave o coloca quatro léguas mais distante.

10 Vide a viagem de Léry a respeito destes peixes caramiri e acaramiri e relativamente aos tamoatas. Marcgrave, na História Natural do Brasil, liv. 4, c. 5, onde diz que os portugueses chamam este peixe soldado, porque parece armado, tendo a testa coberta de uma crosta espessa e o corpo de escamas duras e bem ordenadas sobre a aresta das costas, à moda das antigas couraças.11 Marcgrave, no liv. 8 de sua História Natural do Brasil, cap. I, nota que sob o nome de distritos, chamados pelos Portugueses freguesias, estão compreendidos não somente os portos e enseadas de mar vizinhos, como ainda os lugares ermos, campos, vales, florestas, casas isoladas, aldeias e rios; que freqüentemente dão nome ao distrito, como Poiubam, Camaragibe, que pode ser nosso Camaragibe e outros.12 Entre os rios Otscunog, de Opone, Iavarug, Beryvere, Vatepug [todos estropiados] e Ceará, há mais de sessenta léguas, todas ocupadas pelos tapuias, chefiadas por diversos reis. As terras de Janduí que tem mais de 110 anos, estendem-se ao longo dos rios de Otschunogh, Otschuaiaiuch e Drerinagh [todos estropiados], que é chamado pelos holandeses, como um regulo seu vizinho, de Pritiiaba. Os que ocupam o resto da região mencionada, que se chamam hoje Arigpoigh, Vvanasevvasug, Thering e Drememge [todos estropiados], são inimigos daqueles que pertenciam ao partido dos portugueses. Os povos sobre os quais Janduí governa, com um outro regulo dito Caracara, são chamados tarairius.