1 Roulox Baro foi enviado, quando criança, ao Brasil, na frota das índias Ocidentais, que partiu da Holanda em 1617 e pode ter, atualmente, quarenta anos. Aprendeu, em pouco tempo, a língua do país, privou com os bárbaros e viveu como eles.2 Alguns os chamam de tapuias, outros de tapoios: mas como esta denominação não é francesa, o tradutor chama-lhes tapuias. Há, deste nome, na terra firme do Brasil, setenta e seis nações, referidas pelo bom amigo de meu pai, o Senhor de Laet, em seu 15° livro das índias Ocidentais, cap. 3. Todas belicosas, que antes da vinda dos europeus ao dito Brasil se faziam guerra cruel; agora, tendo deixado as guerras civis, tomaram partido uns pelos holandeses, outros pelos portugueses. Este autor, entretanto, fala apenas daqueles que são vizinhos das capitanias ou governos da Paraíba, Itamaracá e Ceará.3 Este governo, ou Capitania do Rio Grande, confina com os referidos governos, a saber, a Capitania de Ceará entre o Oriente e o Setentrião; com a Paraíba e Itamaracá, do lado do Ocidente; com o mar, do lado do Setentrião, e com os tapuias ao Oriente. Tomou seu nome do rio a cuja margem está construída uma pequena cidade com um forte, dos quais foram expulsos nossos franceses pelos portugueses no ano de 1601, os quais, depois de atacar os nossos aliados e principalmente o cacique dos Petiguaras, mataram cruelmente diversos milhares de selvagens. Os brasilianos chamam o rio, que os espanhóis denominam de Rio Grande, de Potengi ou Potingi, e os mapas dão Potengi; ele desemboca no mar sob os cincos graus e trinta minutos em direção ao meio-dia. Os portugueses construíram nesta região uma nova fortaleza, que lhes foi tomada pelos holandeses, que já haviam ocupado Pernambuco no ano de 1644, chamado pelos portugueses de Fornaboco [sic], que quer dizer boca do inferno, devido à dificuldade da entrada tortuosa do porto, toda cheia de escolhos; parte da guarnição foi morta nesta tomada, parte retirou-se para junto dos tapuias, esperando a ocasião de retomar o dito governo do Rio Grande, cuja costa, que olha para o mar, é de figura semicircular. Depois do Rio Paraíba, que dá nome ao governo vizinho, encontra-se a embocadura do Manianguape ou Mangagoape [Maranguape]; uma légua mais alto está a baía denominada pelos nossos franceses de Traição; os selvagens que habitam estes lugares são chamados petiguares. Desta baía até o rio Cromatin nos mapas Goromatin, seguindo seu antigo nome, Camaratiba conta-se uma légua. A quatro léguas daí está a chamada Baía Formosa, a meia légua da qual entra no mar o pequeno rio de Congaicú. Baía Formosa é denominada pelos selvagens de Quartapicaba. A uma légua daí, está o Rio Curamatau [Crumatahy] a meia légua deste o Rio Subauna, e a mais uma outra, uma ponta de terra dita Ponta da Pipa. Segue depois uma costa sem porto e silvestre, que é vulgarmente chamada Paranambuio e Guiraira, de onde, até o Rio Tareri que há três léguas, distanciada daqueles que leva o nome de Piranga. Aí existe o porto que os portugueses chamam de Busios, do qual até uma ponta de terra dita Ponta Negra, há três léguas, e de Ponta Negra até o Rio Grande, duas; cinco léguas daí, está o famoso banco que os portugueses chamam Baixio de São Roque.4 A casa de Baro estava numa aldeia do Brasil, a cinco ou seis léguas da de Garsman, perto do Rio de Camaragibe, que perde o seu nome no de Potengi, que nosso autor chama Potegi. Este lugar está no governo do Rio Grande, a seis léguas do forte que lhe dá o nome5 O inverno, muito chuvoso nestes países, que têm os dias e as noites quase iguais, começa no mês de abril e termina em agosto; o mesmo acontece em todas as outras terras situadas entre o Equador e o Trópico de Capricórnio. Aliás, os rios que, pela sua natureza, não têm grande curso, enchem-se extraordinariamente não só em razão das chuvas como pelo fluxo do mar, que é violentamente impulsionado em direção ao interior, mais baixo, pelos ventos que reinam nesta estação; no verão são vias secas, muito folgadas. Assim, oNo texto, Tiguares. (L. B. R.). Os nomes de índios, rios e geográficos em geral estão muito estropiados, sendo difícil sua reconstituição.
Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo