Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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mato e três pequenos, e ainda mais cinco; depois de ter dado comida aos meus cães, os tapuias puseram-se em ação, preparando, limpando, cortando em pedaços e moqueando as carnes de um lado e os intestinos de outro. Não esperavam que as carnes acabassem de assar; comiam-nas ainda sangrentas e saciavam-se avidamente até não poderem mais. Deste modo passaram a noite.Continuaram o festim no dia seguinte; os mais galhardos foram procurar mel silvestre e frutas, dos quais compõem uma bebida que é chamada de uva* , aqueles que a bebiam logo vomitavam e recomeçavam a comer como antes; os outros dormiam um sono longo e profundo.No dia 30, visitamos a aldeia de Vvarremei, orientada do poente para o norte, em direção a uma alta serra, onde passamos a noite, em meio de grandes bosques, de baixo da chuva.

Primeiro de maioTendo atravessado diversas moitas de espinheiros e rochedos pontudos, caminhando ora para o Setentrião ora para o Ocidente, encontramo-nos à margem do Rio Monpabu, que atravessamos a nado; tinha mais de uma légua de largura e na outra margem uma pequena ilha, onde descansamos até o dia seguinte, segundo do dito mês. Isso nos fez sofrer muito, porque caímos em matas cheias de espinhos e foi preciso abri-las a golpes de machado e com as mãos para podermos passar. Finalmente, chegamos ao cume de uma serra, de onde descobrimos a das Minas. Aí esgotamos duas grandes árvores cheias de mel silvestre e, tendo caçado, ceamos, sobre um pequeno outeiro, uma grande serpente chamada cascavel, um tenro pássaro chamado avestruz** e dois tatus, que matamos graças aos meus cães e às flechas dos tapuias que me acompanhavam junto com Muroti, sem que tivéssemos coisa alguma para beber.A 3, seguindo do Ocidente para o Norte, atravessamos campos pedregosos e espinhentos até a nascente do dito Rio Monpabu, onde acampamos. Entrementes, um dos nossos tapuias avançou até a serra vizinha, a fim de lá procurar um companheiro seu que ali vinha freqüentemente.Partimos na madrugada seguinte e caminhamos rumo ao sul entre rochedos, onde pegamos ratos chamados yperie, que assamos e comemos com mel silvestre.No dia 5 do corrente, tendo encontrado e seguido a pista de um homem, voltamos à mencionada nascente do Monpabu, seguindo daí até a de um pequeno rio sem nome, onde nossa ceia foi um pouco de mel silvestre.Os dias 6 e 7 decorreram cansativos e com pouca caça, e então avistamos a serra que precisávamos alcançar para encontrar os brasilianos; pouco depois chegamos a uma aldeia, Terapissima cujo chefe era João Vvioauin, o qual nos recebeu amavelmente e nos deu para comer milho* daquele que em França é chamado trigo da Turquia, ervilhas e favas, e deu-nos a beber mel silvestre. Encontramos com ele os tapuias, cuja pista havíamos seguido desde as cabeceiras do Rio Monpabu.* O Major Mário Barreto traduziu como "cambica'. Ob. Cit., 125. (L. B. R. )** No texto struo. Vide nota 23 do senhor Morisot, em seguida ao texto de Baro.* No texto "mays", "mais"; é sinônimo de milho ou farinha de milho. Vide adiante nota 27 do Senhor Morisot. ( L.B.R.)