Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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No dia seguinte entreguei ao referido Muroti os presentes que Suas Senhorias, os nobres e poderosos Senhores, representantes dos Estados Gerais, enviavam ao Rei Janduí, seu pai, rogando-lhe que os fizesse levar pelos seus acompanhantes.No dia 23, tendo passado o castelo do Senhor de Keulen e o Rio Potengi, enviei à minha frente dois brasilianos, a fim de reconhecerem os trechos indicados e avisar Janduí ou sua gente da minha chegada. Entretanto, de passagem, no dia 24 do dito mês fomos cortesmente recebidos na casa de Schouten, recebedor dos direitos da Companhia d,as índias Ocidentais, que nos ofereceu aguardente e depois nos mandou conduzir além de Pitimboa, onde pegamos um porco do mato, que fomos comer na Campina, onde pernoitamos.Ao amanhecer, embora os nossos cães tivessem sido feridos pelos porcos, não deixamos de pegar um veado, que foi moqueado pouco depois, às margens do Rio Pirausie, onde chegamos muito tarde.No dia seguinte atravessamos a nado o Rio Monpabu, cujo curso é extremamente violento. Tendo feito fogo na outra margem, a fim de secar nossas roupas, os homens de Muroti pediram-me permissão para ir caçar e pegar alguns animais no curral de André Claesen , o que lhes recusei, dizendo-lhes que havia suficiente nos bosques e campos sem entrar nos parques dos particulares; e ameacei de mandar amarrar a uma árvore o primeiro que o tentasse. Eles me redargüiram que logo que me deixassem iriam matar tudo que pudessem pegar no mencionado curral. Disse-lhes que se eles o fizessem eu saberia como tratá-los. " "E que nos farás" perguntaram." " "Compete a ti ou aos holandeses agir contra nós" Pois mesmo que tivéssemos cometido toda sorte de maldades, como recentemente fizeram os do Ceará, viríeis sempre procurar-nos tendo em vista a paz".Respondi-lhes que de tal modo castigaria os do Ceará pela sua traição, que isso lhes serviria a eles próprios de exemplo e que, se eu me havia fiado neles, no passado, doravante deles desconfiaria. Então, para mostrar que pouco ligavam ao que eu lhes afirmava, entraram no dito curral e apossaram-se de duas vacas, que queriam matar. Dirigindo-me a Muroti, avisei-o de que me queixaria a seu pai, que não o mandara ao meu encontro para comportar-se mal. Jurei que qualquer deles que descesse, daí em diante, ao Rio Grande sem a senha que eu próprio daria a Janduí, seria preso no forte e que eu o castigaria à minha discrição Muroti nada retrucou e, tendo anoitecido, fomos repousar.No dia 27, tomamos o caminho chamado de Garstman, lugar para onde se haviam retirado recentemente os nossos inimigos, repelidos pelos habitantes da aldeia dos selvagens nossos amigos, situada em nossa Capitania, onde o Ministro Stetten foi ferido ao voltar de uma mina de ouro, que ficava do lado do poente do nosso Castelo do Rio Grande e atingimos o lugar em que Janduí tinha acampado com sua gente, quando o povo de Cunhaú foi massacrado pelos habitantes seus vizinhos junto com os portugueses. O maior cuidado que tiveram Muroti e seus acompanhantes foi o de reunir os ossos dos que haviam sido mortos neste combate de Cunhaú e de guardá-los cuidadosamente para a ocasião que mencionaremos mais adiante.Empregamos o dia seguinte na procura do caminho de Corra da Mina* guiados pela bússola, rumo sul, e pegamos dois veados, oito grandes porcos do? O Major Mário Barreto traduziu como "Barranco da Mina". Ob. Cit. 125. (L.B. R.)