Relação da Viagem de Rouloux Baro ao País dos Tapuias

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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RELAÇÃO DA VIAGEM DE ROULOX BARO,Intérprete e embaixador ordinário da Companhia das índias Ocidentais, da parte dos Ilustríssimos Senhores das Províncias Unidas, ao país dos tapuias, na terra firme do Brasil.Começada a três de abril de 1647 e terminada a 14 de julho do mesmo ano. No dia 3 abril de 1647 recebi dos nobres e poderosos Senhores Presidente e Conselheiros que representam o alto e soberano governo do Brasil, em nome dos altíssimos e poderosíssimos Estados Gerais das Províncias Unidas dos Países Baixos, Sua Alteza o Príncipe de Orange e a nobre Companhia das índias Orientais, ordem de dirigir-me ao país dos tapuias, vizinhos do governo do Rio Grande, a fim de com eles tratar, seguindo as instruções contidas na minha comissão.Preparei-me imediatamente para partir e tomei para acompanhar-me João Straffi, brasiliano, três tapuias e quatro cães, para termos em caminho com que caçar e obter alimento.Saímos no dia seguinte do lugar denominado Incareningi, situado na mencionada província do Rio Grande, onde eu morava, e passamos em frente à casa do Tenente-Coronel Garstman, que fica próxima ao Rio Camaragibe, e como não pudéssemos vadeá-lo nem atravessá-lo a nado, por ser muito largo, tomamos o caminho da Campina, à direita, onde dormimos.No dia seguinte, 5 de abril do dito ano de 1647, fomos obrigados a voltar e dormir em minha casa, impedidos de prosseguir devido ao transbordamento das águas. No dia 6 mandei alguém verificar se poderíamos passar pelas minhas roças para nos dirigirmos à aldeia dos brasilianos e fui informado de que seria possível fazê-lo a nado.No dia 7 fomos à dita aldeia, mas ninguém quis atravessar o rio conosco, pois a água estava tão alta que inundava todo o campo, que de si já era deserto, possuindo poucos arbustos e árvores, sendo chamado comumente por uma palavra espanhola de Campinos.No dia 8 e 9 dirigimos-nos para o Rio Potengi e, deitamo-nos num sítio pantanoso de onde as chuvas nos expulsaram.Na manhã do dia 10, tendo as águas baixado, pegamos nas poças onde os peixes tinham ficado retidos, alguns peixinhos que os selvagens chamam de paramiri, acaramiri e tamoatas. Pela tarde, tendo os nossos cães encontrado um bando de animais selvagens, pegamos um e, não podendo avançar, por ser o rio Potengi muito largo, voltamos ao Rio Grande, onde estava minha casa.Daí partimos no dia 16 do dito mês de abril, tendo as águas baixado, para ir dormir na Campina.No dia seguinte chegamos à margem do Camaragibe, que parecia um mar e tinha tal correnteza que era impossível atravessá-lo, o que nos obrigou a arrepiar caminho e a voltar, ainda uma vez, à minha casa, onde nos regalamos com dois veados que havíamos apanhado naquele dia.No dia 21, além dos homens que tinha comigo, tomei dois na aldeia dos brasilianos, para nos conduzirem ao outro lado do rio, onde chegamos aproximadamente ao meio dia. Vieram ao nosso encontro dez tapuias que tinham atravessado o Rio Potengi a nado e entre eles estava Muroti, filho do velho Janduí, seu rei. Comunicou-me que seu pai mandara dizer-me para vir encontrá-lo logo, pois o inimigo lhe pedira sua colaboração. Retruquei-lhe que havia três semanas deixara minha casa para defrontar o rei seu pai e fora impedido pela enchente. Respondeu-me que me ensinaria um lugar pelo qual facilmente eu poderia passar com os meus.