nossas forças e da escassez de provisões com que lutamos, não chegaram a pôr em prática os seus planos, pois perceberam que, sabedores de suas maquinações, pudemos tomar, a tempo, as devidas cautelas contra eles. Além disso, muitos dos moradores portugueses apreciaram extraordinariamente a atuação do Grande Conselho, na gestão dos negócios públicos, preferindo antes viver em calma e com segurança, do que se comprometerem em tão arriscada empresa. E assim permaneceram as coisas sem alteração de vulto, até o presente, quando já não temos elementos para afirmar se pretendem eles ou não deixar que tudo corra como até aqui Segundo fomos informados de fonte fidedigna, pretendiam os revoltosos assestar o seu principal golpe contra o Recife, que contavam tomar de surpresa. Parecia-lhes que, com o auxílio dos nossos próprios negros (que, na maior parte, são católicos), poderiam capturar a praça no dia marcado para o leilão de escravos, quando grande número de pessoas procedentes do interior aflui para a capital. Se isso acontecesse, é claro que as demais seriam forçadas a se entregar. Todos esses planos, porém, falharam devido aos fortes contingentes que tivemos a cautela de concentrar no Recife durante os dias de feira. Ao que consta, os principais cabeças do movimento são: João Fernandes Vieira e seu sogro Francisco Berenguer, além de vários outros que já teríamos recolhido à prisão se contra eles tivéssemos conseguido obter informações mais seguras. Entretanto, a pesar de tudo fazermos para apurar a verdade, não conseguimos encontrar motivos que justificassem a prisão desses indivíduos, nem, o desarmamento geral do povo. Ademais, soubemos que se o tentássemos fazer, teríamos imediatamente uma insurreição geral. Nossos armazéns e postos de abastecimento estavam, por essa época, de tal forma desprovidos que não poderíamos manter qualquer força, retirada das guarnições, para oferecer luta em campo aberto. Além disso, um tal expediente poderia trazer conseqüências desastrosas para nossa, gente, principalmente para os que moravam longe dos fortes e que, temíamos, corressem o risco de serem massacrados pelos portugueses. Pelas informações que temos enviado a Vs. Excias., vê-se claramente que os próprios súditos do Rei de Portugal têm sido instigados a agir contra nós. Torna-se, portanto, absolutamente necessário usar-se de toda a cautela bem como apressar a remessa dos suprimentos que reiteradamente lhes temos pedido. Baseados nos primeiros informes aqui recebidos, isto é, que os portugueses tentariam desembarcar forças e armas ao Sul do Recife, enviamos, a 13 de outubro, o iate "Enkhuizen" acompanhado de uma chalupa e um galeão, para fazerem o patrulhamento daquelas paragens. Entretanto, essas embarcações regressaram algum tempo mais tarde, sem ter conseguido descobrir coisa alguma. A informação que
Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil
Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins