se conseguissem dominar a região, essas guarnições deveriam necessariamente cair em suas mãos, tal como ocorrera em 1640 com as guarnições espanholas em Portugal que, por idênticos motivos, não puderam resistir aos portugueses. Ademais parecia-lhes que, a menos que enfraquecêssemos demais as nossas guarnições, não teríamos tropas suficientes para enfrentar uma ação de grande envergadura, em campo aberto, Estas e outras insinuações semelhantes foram insistentemente inculcá-las aos portugueses por indivíduos que, encontrando-se em situação difícil sob o nosso domínio, esperavam melhorar seus negócios, substituindo o Governo. Nada disso, entretanto, produziu grande efeito, enquanto Sua Excelência se manteve à testa do Governo, em parte porque, advertidos de tal propaganda, observávamos cuidadosamente todos os movimentos dos portugueses, e, em parte porque, sendo então nossas forças de terra e mar, muito maiores que atualmente, pouca ou nenhuma probabilidade de êxito tinham os projetos lusos. Julgaram, por isso, de bom aviso, aguardar o regresso de Sua Excelência à Holanda. Tendo sido divulgada com antecedência a partida do Conde, e, cientes de que as nossas forças militares ficariam consideravelmente reduzidas, teriam eles ótima oportunidade para pôr em prática os planos cuja execução há tanto tempo vinham procrastinação. Além disso, muitos portugueses que viveram sob o Governo do Conde e confiavam em sua autoridade como a única capaz de manter a disciplina da tropa, receosos agora das arbitrariedades e execuções que poderiam cometer oficiais ambiciosos e soldados cúpidos, viam-se forçados a se aliar contra nós. Depois da partida de Sua Excelência, essas conspirações vêm progredindo diariamente; os implicados revelam o maior zelo em obter toda a sorte de informações sobre o efetivo de nossas guarnições, com a evidente intenção de levar a efeito os seus planos antes que tenhamos tempo de receber reforços e provisões da Holanda. Com esse fim em vista, expediram os rebeldes mensageiros para a Baía, a fim de pleitear auxílio de homens e de armas, nos quais parecem depositar grandes esperanças. Há fortes razões para se acreditar que a vinda de André Vidal, da Baía, em agosto último, com o pretexto de fazer despedidas antes de regressar a Portugal onde iria servir seu Rei, teve como objetivo principal verificar pessoalmente qual a situação aqui reinante a fim de poder informar tanto o Governador, na Baía, como a Corte, em Portugal. É também provável que tivesse procurado sondar as disposições dos nativos, bem como estimular os partidários a lutar por sua causa mediante a promessa de prontos socorros da Baía. Mais tarde viemos a saber que esteve presente a vários conciliábulos. Entretanto, ainda que muito se animassem os rebeldes ante a perspectiva de sucesso, à vista da diminuição de
Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil
Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins