Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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com o apoio da Baía, pretendiam tomar armas contra nós. A ocasião era mesmo oportuna para a execução de um tal plano, pois o Conde Maurício regressara para a Europa com a maior parte de nossa frota e grande número de soldados, e, por outro lado, não era lícito esperar, tão cedo, novas remessas de forças para o Brasil. O Grande Conselho, bem a par do que se passava, não poupava esforços no sentido de descobrir os cabeças da rebelião e responsabilizá-los pelo crime, condenando-os, conseqüentemente. Vários oficiais foram, enviados como espiões para o interior, a fim de procurar conhecer as intenções do povo e saber se havia ligações entre este e os promotores da rebelião. O mesmo se fez com relação à outra margem do Rio São Francisco e ao acampamento de Camarão, para onde se destacaram pessoas encarregadas de inquirir de seus propósitos e se informarem sobre os preparativos que por ventura se estivessem realizando para a guerra. Nada, porém, conseguiram apurar, pelo que as suas informações careceram de importância. Puderam, entretanto, perceber que havia razão para tais avisos, pois dado o caráter altivo dos portugueses (além da diferença de religião) certamente não deixariam eles escapar qualquer oportunidade de se libertar do jugo de seus dominadores. A 13 de fevereiro de 1645 dirigia o Grande Conselho a seguinte carta ao Conselho dos XIX, com relação aos planos portugueses:

Carta do Grande Conselho à Companhia das Índias Ocidentais

CARTA DO GRANDE CONSELHO À COMPANHIA DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS

Nobilíssimos e Mui Honrados Senhores,

Durante o governo de Sua Excelência o Conde Maurício, vários habitantes deste Estado entregaram-se a maquinações secretas para, se rebelarem contra nós, na esperança de conseguir auxílio da Baía. Consistiam as suas atividades em insinuar entre seus amigos, após o êxito que alcançaram no Maranhão, que, à vista do considerável enfraquecimento de nossas forças devido aos grandes reforços enviados às guarnições de Angola, São Tome e outros pontos, excelente oportunidade se lhes deparava para sacudir o jugo batavo e restaurar a liberdade antiga, sob seu próprio Rei, Não foi, portanto, pequeno o encorajamento que receberam - imaginando poderem levar a efeito os seus planos com relativa facilidade - ao saber que havia já tempo que não recebíamos novos suprimentos de carne e de outros gêneros, nem reforços militares da Holanda e que, já esgotados os armazéns, da Companhia, eram as guarnições dos fortes obrigadas a se abastecer periodicamente de farinha e carne fresca, no interior do país. Julgaram, pois, os portugueses que,