Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 92


segundo a qual um tal Arent Jansz Van Norden, que durante cerca de quatorze meses servira, no Brasil, na qualidade de cadete, lhes havia declarado em Amsterdã que estivera empregado em um engenho pertencente a João Fernandes Vieira, onde, após haver trabalhado dois meses, fora convidado por Francisco Berenguer, lavrador, para acompanhar seu filho Antônio de Andrade Berenguer à Holanda e de lá a Portugal, a fim de servir-lhe de intérprete. Ante as promessas que lhe foram feitas, Van Norden aceitara o convite e partira com Antônio de Andrade a bordo do navio de Liefãe para a Zelândia e, a seguir, de Vlissingen no navio S. Hubes para Lisboa. 1 Dizia a carta que, depois de uma convivência de três semanas, Antônio de Andrade Berenguer revelara a Van Norden ser portador de uma carta assinada por João Fernandes Vieira, Francisco Berenguer, Bernardino Carvalho, João Bezerra e Luiz Braz Bezerra, pela qual informavam ao Rei de Portugal estarem bem abastecidos de homens, dinheiro e armamento para a restauração do domínio português no Brasil. Acrescentava o Conselho na citada missiva que o Rei de Portugal dera patente de capitão ao dito Berenguer por esse pequeno serviço, e, por isso, recomendava ao Grande Conselho e ao Conde Maurício que mantivessem esses indivíduos sob vigilância, tendo em vista a aversão que os portugueses nutriam contra os holandeses.

Na reunião do Grande Conselho do Brasil, realizada a 16 de março 2 de 1643, declarou o Conde Maurício ter sido informado de que portugueses de destaque planejavam surpreender as nossas guarnições do interior - Muribeca, Santo Antonio e outros lugares, como o Maranhão - passando-a a fio de espada, plano esse que deveria ser posto em execução em um dia santo, quando costumava reunir grande massa popular. Residiam na Várzea os que tinham maior responsabilidade nessa conspiração e se propunha atacar de surpresa também o Recife, - o que sem dúvida lograriam fazer. De resto, as outras guarnições do interior seriam facilmente subjugadas, e, assim, sem tropa e sem comércio, estaria a Companhia impossibilitada de se manter no Brasil por mais tempo.

As deliberações tomadas.

Tratou-se, então, de decidir se seria melhor deter imediatamente os cabeças da rebelião ou protelar essa medida para ocasião mais oportuna, a fim de que as prisões não alarmassem o povo. Optou-se pela última


  1. Nota 194: O tradutor inglês omitiu o nome do navio S.Hubes (cf. p. 55, 1a coluna,1° § da ed. holandesa e p. 42, 1a coluna, 2° § da trad. inglesa).

  2. Nota 195: O tradutor inglês escreveu fevereiro (cf. p.55, 1a coluna, últ. § da ed. holandesa e p. 42, 1a coluna, 1a § da trad. inglesa).