Parecia, porém, que os portugueses, movidos por um ódio inato ao povo que os havia dominado, estavam decididos a não poupar esforços para minar o governo batavo, em seus fundamentos, conspirando contra ele. Acresce ainda notar que, enterrados em dívidas a mais não poder, e não dispondo de recursos com que liquidá-las, se abandonavam ao desespero e se dispunham antes a enfrentar os azares de uma luta armada (na esperança de auxílio de Portugal) que suportar as agruras da miséria. Os mais francos dentre eles chegaram mesmo a dizer aos nossos, mais tarde, que, caso tivessem malogrado as suas esperanças de reforços da Baía, estavam dispostos a solicitar o auxílio da Espanha ou da Turquia.
Razão da revolta dos portugueses.
Pelos fins de 1642 corriam boatos de que os portugueses tramavam uma conspiração contra o Estado. Por isso foram eles desarmados e o armamento recolhido aos arsenais do Governo. Entretanto, pretextando vários motivos e assegurando-nos de que viveriam pacificamente entre nós, conseguiram os lusos, aos poucos, reaver suas armas. Assim agindo, talvez os movesse o receio de nossas guarnições ou ainda não se achassem perfeitamente seguros do concurso baiano.
Entretanto, parece-nos chegado o momento de analisar as verdadeiras causas da revolta.
A 13 de dezembro de 1642, João Fernandes Vieira, escabino da Cidade Maurícia, compareceu perante o Grande Conselho, achando-se presente o Conde Maurício e disse ter conhecimento, por certos judeus, de que tanto ele como seu sogro Berenguer eram, na Holanda, considerados suspeitos por haver ele remetido ao Rei de Portugal, por intermédio de um filho do mesmo Berenguer, cartas tendenciosas e nocivas aos interesses do Estado. Não negava, João Fernandes, ter enviado ao Rei uma carta, por intermédio da referida pessoa. Entretanto, tratava-se apenas de uma recomendação, visando auxiliar Berenguer a obter do soberano uma colocação. Prontificou-se a provar suas alegações, para o que exibiu uma cópia da referida carta, na qual não se viam senão expressões de congratulação com o Rei pela sua ascensão ao trono e a recomendação do referido Berenguer. A seguir propôs Vieira, como medida imprescindível para a segurança do Estado, que fossem os portugueses desarmados, assim como os Capitães de Campo e todos os que se achavam sob as suas ordens: negros, brasileiros, mulatos e mamelucos.
Cartas procedentes do estrangeiro fazem aumentar as suspeitas .
Veio, também, à baila, nessa ocasião, uma carta datada de 1.° de julho de 1642 1 recebida pelo conde Maurício do Conselho dos XIX,
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Nota 193: O tradutor inglês escreveu junho (cf. p. 55, 1a coluna, holandesa e p. 42, 1a coluna 1° § da trad. inglesa)
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