à Companhia e os consideraram a causa principal da revolta que a seguir se verificou entre os portugueses. Ao contrário, é fora de dúvida que tais contratos representavam a única solução para um estado de coisas que se apresentava calamitoso e no qual estavam igualmente envolvidos os senhores de engenho, os lavradores e os sitiantes, acarretando a paralisação dos engenhos e o abandono dos campos. Ademais, se tal situação se prolongasse, causaria a ruína completa da indústria açucareira, pois a Companhia já vinha sofrendo prejuízos enormes que orçavam por 38% anualmente, no Brasil, mais 37% na matriz, ou seja uma perda total de 75% por ano, somente nos engenhos.
Além de tudo, não eram poucos os comerciantes que, sendo credores dos senhores de engenho, deviam à Companhia consideráveis importâncias e que teriam de ir à falência, pela impontualidade de seus devedores, e, portanto, com enormes prejuízos para a Companhia, se esta não lograsse encontrar uma forma de se cobrar de tais dívidas, consideradas perdidas. Tudo isso levou o Conselho a julgar de necessidade inadiável a realização dos acordos, conforme sugestão dos senhores de engenho e seus credores, mas não sem antes submetê-los à aprovação do Conselho dos XIX. Não havia, portanto, razão para que os contratos fossem considerados nocivos à Companhia, ainda que certas pessoas maliciosamente os combatessem, alegando que (se não tivesse havido a rebelião) nem em 20 anos, talvez mesmo nunca, teria a Companhia prejuízo igual à responsabilidade que os contratos lhe trouxeram. Pois, era notório que o Conselho jamais desembolsaria, como de fato não desembolsou, nem um único vintém para pagar os contratantes por conta da Companhia. Ademais, esta ficou plenamente garantida pela hipoteca de 25 engenhos cuja produção média oscilava entre 230, 240 e 250 caixas de açúcar por ano, cada uma. Admitindo que a Companhia reservasse para si apenas 140 ou 150 caixas da produção de cada uma delas, já aí se teria um total anual dos 25 engenhos de 420.000 florins. É evidente, pois, que, mesmo não se tomando em conta os engenhos, seus utensílios de cobre, acessórios e animais, a soma de 2.125.816 florins, que era o total do débito contraído para com a Companhia em virtude dos contratos, poderia ser cobrada sem grande dificuldade. O expediente dos contratos teve ainda o mérito de permitir que os senhores de engenho permanecessem na posse tranqüila de suas moendas, livres da pressão dos credores e, portanto, alimentando a esperança de que, mais folgados agora, os lavradores poderiam dedicar-se mais e melhor às lavouras, acelerando assim a liquidação de suas obrigações. De fato foi isso que se deu, e, já em 1645, a safra açucareira apresentava perspectivas excepcionais.