a maior parte das propriedades confiscadas, engenhos de cana, mercadorias e até negros comprados na África por conta da Companhia, de modo que seus livros estavam repletos de débitos de terceiros, mas, a Caixa, vazia de dinheiro. Os novos membros do Grande Conselho, Senhores Hamel, Bullestrate e Kodde não descansaram enquanto não corrigiram esse sistema, passando as mercadorias a serem vendidas à vista ou em troca de açúcar de forma a auxiliar a Companhia nas grandes despesas que era forçada a fazer para custear suas numerosas expedições. É certo que daí por diante -- em 1640, 1641 e 1642 - puderam eles remeter vultosos carregamentos de açúcar para a Holanda, como tão grandes se não haviam ainda visto no Brasil. Todavia, apesar de tudo, dada a grande quantidade de negros importados após a nossa conquista de Angola, foi crescendo dia a dia o passivo da Companhia, devido à impontualidade de seus devedores. Para remediar tal situação, baixou o Conselho dos XIX ordens expressas no sentido de que os negros só fossem vendidos à vista ou mediante pagamento em açúcar, o que aliás era impraticável, porque não havia quem os quisesse comprar em tais condições. Com isso, o preço dos escravos caía rapidamente, e, constituindo eles pesado encargo para a Companhia, por estarem sujeitos a doenças e a elevada mortalidade, foi preciso que se revogasse tal ordem a fim de evitar que o tráfico negreiro desaparecesse completamente. Na verdade, os que dispunham de numerário empregavam-no todo nos engenhos, canaviais e escravos, de sorte que, não podendo pagar suas compras em dinheiro contado, eram forçados a negociar a crédito, até que lhes fosse dado colher o fruto de seu trabalho.
Por isso os membros do Grande Conselho fizeram o possível para cobrar os devedores em atraso, logo no início da safra açucareira, tendo determinado aos funcionários do interior que confiscassem por conta da Companhia a quantidade necessária desse produto. Entretanto, essa providência só deu como resultado ações judiciais, sentenças, execuções e prisões, chegando muitas vezes os membros do Conselho ao ponto de descerem de suas posições e irem pessoalmente ao interior, a fim de promover a cobrança das somas devidas à Companhia. Também este expediente falhou, pois os comerciantes e comissários puseram-se a reclamar contra o fato de a Companhia se apoderar do açúcar ainda nos engenhos, sem lhes permitir que também se cobrassem, eles que eram tão credores quanto ela. Nem só murmúrios e ameaças surgiram, mas ainda reclamações ao Conselho dos XIX, ao qual tendenciosamente pintavam tais transações com as mais carregadas cores, na esperança de que os funcionários da Companhia deferissem o cumprimento de seus deveres. Depois de ponderado estudo, e, receoso, não sem fundamento, de que com. o tempo se generalizasse o descontentamento, o Grande Conselho propôs medidas