Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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Com isso sofreu o comércio rude golpe, pois toda gente receava aventurar-se em negócios nos quais podiam perder todos seus haveres numa só noite, e até, possivelmente, pelas mãos de um único homem. As rendas da Companhia caíram pesadamente e suas despesas subiram, forçada que foi a manter de vinte a trinta soldados na defesa de cada plantação ou engenho de importância. Isso também a impedia de organizar uma tropa regular com que enfrentar o inimigo. Tal era a situação do Brasil Holandês no fim do ano de 1640.

Navios holandeses enviados à Baía.

A 22 de dezembro do mesmo ano, Adriaen van Bullestrate chegava ao Recife, procedente de Middelburgh, na qualidade de Alto Comissário, de modo que, completo o Grande Conselho, julgou-se de bom alvitre apelar para a esquadra a fim de pôr termo àquelas dificuldades. À vista dessa resolução enviamos à Baía todos os nossos navios para que o inimigo se certificasse de que estávamos em condições iguais às dele, com isso visando facilitar as negociações que então se processavam, para a cessação das queimadas, de ambos os lados. O Conselho dos XIX transmitira ordens expressas para que alguns de nossos navios fizessem um cruzeiro ao largo do Rio de Janeiro, de onde as naves espanholas costumavam partir de regresso à Espanha, durante os meses de abril e maio. 1 Por esse motivo, vários dos nossos maiores navios foram escalados para a missão de procurar interceptar a frota, estacionando os demais nas proximidades da Baía.

Enquanto os nossos emissários parlamentavam com o Vice-Rei sobre a cessação dos incêndios e pilhagens, certo português de nome Paulo da Cunha cometeu atrocidades incríveis, assassinando, saqueando e incendiando plantações, o que fez com que o Conde Maurício dirigisse a seguinte carta ao Vice-Rei.

CARTA DO CONDE MAURÍCIO AO VICE-REI

Carta do Conde Maurício ao Vice-Rei.

As atrocidades ultimamente cometidas por Paulo da Cunha, assassinando, pilhando e incendiando, em campo aberto, fazem-me, com razão, imaginar que sua última e atenciosa carta me tivesse sido dirigida por mera cortesia, sem corresponder à realidade dos fatos. A confiança que depositei na sinceridade de V. Excia., levou-me a ordenar o regresso de nossos navios e de nossas forças, de seus territórios, a fim de se eliminarem todo os motivos de ressentimento. Entretanto, a longa demora dos nossos delegados justifica a suspeita de que a intenção de V. Excia,, seja simplesmente de contemporizar, e isso me obrigou a despachar um navio levando aos nossos emissários ordem de regressar imediatamente, caso não se conclua o tratado, pois é nosso desejo que tais negociações não se prolonguem por mais tempo. Poderá, pois, V. Excia. dispensá-los, juntamente com os nossos dois reféns, visto como estamos resolvidos a restituir-lhe Martim Ferreira que V. Excia. deixou entre nós, na mesma qualidade, já que seu companheiro faleceu recentemente.


  1. Nota 175: O tradutor inglês escreveu: maio ou junho (p. 35, 1a coluna, 2° §). Cf. ed. hol., p. 43, 1a coluna, 2° §).