As providências mais eficazes adotadas pela assembléia consistiram em guarnecer bem os fortes das fronteiras e disseminar magotes de soldados pelas cercanias dos engenhos e dos canaviais, a fim de os guardar. Assim realmente se fez e os oficiais levavam ordens terminantes de observar atentamente os menores movimentos dos portugueses. Tais providências, entretanto, não produziram o efeito visado, porque os portugueses que moravam longe de nós, mas junto às fronteiras do inimigo não nos deram aviso, em tempo, de sua aproximação. Tomados de ódio contra os batavos, muitos deles facilitavam as freqüentes sortidas dos bandos que incendiavam canaviais e saqueavam engenhos; às vezes serviam-lhes de guias e compartilhavam da pilhagem. Tudo isso nos obrigava a uma vigilância constante a fim de preservar nossos haveres contra os ataques de surpresa. Não demorou muito para que tais incursões atingissem o nosso território propriamente dito. Em novembro, o Marquês de Montai vão 1 mandou duas embarcações repletas de soldados para incendiarem os nossos canaviais da planície, missão essa de que se desempenharam prontamente. Entretanto, não se aventuraram mais além, nem tentaram atear fogo aos nossos engenhos, receosos talvez de encontrar tropas alojadas pelas redondezas. Contudo, não se pode evitar que destruíssem os canaviais, pois agiam sempre à noite. Os mais prejudicados por essas depredações foram os holandeses, não só porque era maior a sua parte nos engenhos e canaviais, mas, também, porque os portugueses procuravam poupar as propriedades de seus patrícios.
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Nota 174: A 21 de junho de 1640, chegava à Baía D. Jorge de Mascarenhas, primeiro Marquês de Montalvão, como vice-rei e capitão-geral de mar e terra do Estado do Brasil e da Restauração de Pernambuco, (cf. nota 46 de Rodolfo Garcia, LXXII, p. 39, tomo II e o Barão do Rio Branco, (LXXV, 375). Promoveu negociações e tréguas com Maurício de Nassau. A 2 de março escreveu a Maurício de Nassau uma carta, participando-lhe a aclamação de D. João IV. A resposta a essa carta é datada de 12 do mesmo mês. Escreveu, ainda, uma segunda carta a Maurício de Nassau, datada de 12 de março. As folhas de rosto das referidas cartas estão descritas em J. Carlos Rodrigues, Bibliografia Brasiliense, n. 1681 e 1682) e no Catálogo da Brasiliana de Maggs Bros; são dois folhetos, um de 8 pp. e outro de 7 pp. A segunda carta foi publicada por Varnhagen (LXXII, 228-230) e por Barlaeus (VII, 246), o qual publicou a primeira em resumo (VII, 208). Quanto à carta escrita a fim de comunicar a El-Rei D. João IV a aclamação de seu nome no Brasil e levada por seu filho D. Fernando em companhia dos padres Simão de Vasconcelos e Antônio Vieira, foi impressa juntamente com a comunicação a Nassau, da aclamação de D. João IV. Publicou-a, também, Gregório de Almeida na "Restauração de Portugal Prodigiosa", Lisboa, Antônio Álvarez, 1643. Dele disse D. Francisco Manuel de Melo: "Seguiu-se o governo do Marquês de Montalvão. de cujo espírito se esperavam grandes feitos, em ordem a recuperação de Pernambuco; mas foi tão breve sua assistência no Brasil, que só teve tempo para se dar a respeitar aos amigos como prudente e temei aos inimigos como industrioso". Preso no período da aclamação e levado para Portugal, aí chegou a 25 de agosto. (Cf. Rodolfo Garcia, nota 57, LXXII, p. 394) e o Conde de Campo Belo (D. Henrique) "Governadores Gerais e Vice Reis do Brasil," ed. oficial e comemorativa, 1940, Porto, p. 65-67).
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