Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 75


Os holandeses falharam em seu assalto à frota espanhola.

Antes da chegada dos novos diretores, expediu-se uma frota à Baía para lá desembarcar alguns homens com a missão de tudo destruir a ferro e fogo. Executada a tarefa, regressaram ao Recife. A mesma esquadra, sob o comando do Almirante Jol, aliás Perna de Pau, e de Jan Cornelisz Lichthart, foi enviada às índias Ocidentais, por ordem expressa do Conselho dos XIX, da Holanda, a fim de aguardar os galeões espanhóis carregados de prata, procedentes de Terra-Firme e Nova Espanha. Em dezembro de 1640, regressou, entretanto, sem nada ter conseguido. Pelo contrário, a armada perdeu quatro ou cinco navios nessa aventura. Mais ou menos pela mesma época, despachou-se o Coronel Koin, com um contingente de infantaria, para a Capitania do Rio Real, a fim de conter os portugueses, operando uma diversão em seus próprios territórios. Não recebendo, porém, a tropa, com regularidade, os suprimentos necessários em país inimigo, e, forçada a suportar enormes fadigas, seus homens ficaram de tal sorte debilitados que se julgou conveniente recolhê-los ao Rio Real, onde ficariam aquartelados para descanso. O major Van den Brande sofreu ainda maior revés, pois, enviado à frente de uma coluna incumbida de apresar uma ponta de gado, foi derrotado e aprisionado. 1

Nessa ocasião, toda a nossa esquadra estava à espreita da frota espanhola da prata, em águas americanas. Não estávamos, portanto, em condições de empreender expedição alguma por via marítima. Tinham, por isso, razão os nossos diretores em recear que os lusos se valessem dessa oportunidade para se vingarem das perdas que sofreram, destruindo nossos engenhos de cana. Esse temor os levou a redobrar seus cuidados no sentido de preservar o Brasil Holandês e seus habitantes das tentativas do inimigo. Considerando-se que grande parte de nossa segurança dependia da boa vontade dos portugueses que viviam entre nós, julgou-se de bom aviso convocar uma reunião dos mais notáveis chefes portugueses das três Capitanias - Pernambuco, Itamaracá e Paraíba - a realizar-se nos últimos dias de agosto, a fim de se combinarem medidas que assegurassem a defesa de seus engenhos e canaviais, contra as incursões do inimigo.


  1. Nota 173: A capitania do Rio Real é o Sergipe. Reforçadas as tropas que Barbalho deixara no Rio-Real às ordens do Capitão Magalhães e de Camarão, com tropas dirigidas por João Lopez Barbalho, pelo General D. Francisco de Moura e pelos do próprio mestre de campo D. João de Sousa, desalojaram os holandeses acampados no Rio-Real, e talvez em 1° de agosto, data de uma das vitórias conseguidas pelos nossos, é que van den Brande tenha sido feito prisioneiro. (Cf. Porto Seguro, LXXIII, 212). Sobre Koia, seu elogio e suas ações, cf. Barlaeus (VII, 126, 187). Koin foi promovido ao posto de tenente-coronel no lugar de Arciszewski, depois da disputa deste com Nassau e de sua ida para a Holanda (Barlaeus, VII, 125)