Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 73


Bálsamo .

O Brasil produz, ainda, diversas qualidades de bálsamos, ao melhor dos quais chamam os nativos Copaíba, 1 nome da árvore da qual é extraído. Trata-se de árvore nativa, de grande porte e casca cor de cinza, que se ramifica, no alto, em numerosos galhos. Tem folhas de meio pé de comprido, colocadas umas opostas às outras, no meio dos galhos; no mais assemelham-se a qualquer outra. Na ponta dos galhos mais longos há um sem número de pequenos brotos, repletos de folhas, dentre os quais surgem as flores e a seguir os frutos, semelhantes a bagas, de loureiro. Estes, a princípio verdes, tornam-se negros e doces à medida que amadurecem. Em seu interior há um caroço redondo e duro, cujo âmago é farinhento, mas impróprio para consumo. Os frutos amadurecem em junho e os brasileiros extraem-lhe o suco, desprezando a polpa e o caroço. Os macacos apreciam-nos bastante.

O bálsamo oleoso e aromático de que esta árvore é tão rica flui todas as luas cheias desde que se procedam, em sua casca, incisões suficientemente profundas para atingir o lenho. Tal é a quantidade de bálsamo que, em três horas, se podem colher cerca de doze mingelen. 2 Se não escorrer imediatamente, obtura-se com cera a incisão e pode-se ter a certeza de que, duas semanas após, o bálsamo correrá em abundância. Não se encontra esta árvore em Pernambuco com a mesma profusão com que prolifera na ilha de Maranhão, de onde o bálsamo é exportado para a Europa. Esse bálsamo é quente no segundo grau e compõe-no uma substância oleaginosa espessa e resinosa. É estomacal e muito bom para dores provenientes de resfriados, casos em que é aplicado externamente, sobre a parte afetada. Algumas gotas, ingeridas, fortificam os intestinos, estancam as hemorragias das mulheres bem como as diarréias ou gonorréias dos homens. Para esses distúrbios pode ser o bálsamo aplicado tanto na forma de clisteres no ânus como na de irrigações por seringa com açúcar e suco de tanchagem no pênis. 3


  1. Nota 169: Em Soares, copaíba. (LXXXVI, 227). Em Marcgrave (LXX, 130),copaiba. Frei Vicente do Salvador (LXXXVIII, 30-31), copaiba. Em Gandavo (XXXVI, 99), copahiba; Barlaeus (VII, 141). Em Cardim (XIX, 55), cupaigba; em Piso (LXX, 56), copaiba; Piso (LXXI, pp. 10 e 118), copaliba ou copaiba. Léry (LII, 157) copay. Segundo Rodolfo Garcia, (XIX, p. 108, nota) foi este cronista quem primeiro a descreveu, dando-lhe o nome indígena, cujo étimo é incerto. Rodolfo Garcia afirma que Soares escreveu copiuba e Marcgrave copiiba. Cláudio Brandão (VII, p. 385, nota 183) escreveu, também, que Soares grafara copiúba. A edição que possuímos de Soares não confirma tal asserção. Ele grafou copaíba. Quanto a Marcgrave, consultamos cuidadosamente a edição de 1648 e lá encontramos copaiba. Trata-se, evidentemente, de equívoco. Esse trecho é, como sempre, tirado de Piso (LXX, 56).

  2. Nota 170: Mengel é medida de leite, valendo mais ou menos um litro. Na linguagem popular, mingel - mingelen. (XLVIII).

  3. Nota 171: Nieuhof escreveu (p. 40 bis, 2a coluna, 7° §): "emissão de sêmen" e o tradutor inglês: emissão involuntária de sêmen", sendo, além disso, pouco fiel nesse trecho, pois omitiu o processo de aplicação do remédio (p. 33, 2a coluna, 2° §). O mesmo trecho, que foi tão mal traduzido para o inglês, encontra-se em Piso (LXX, 56) e dele se depreende tratar-se de gonorréia e não de emissão de sêmen. Quanto à Tanchagem, já Soares (LXXXVI, 185) a havia descrito. Trata-se de planta medicinal da família das Plantagináceas. Vide nota 411.