separa o rio Ceará. Não é grande seu território, pois abrange apenas de 10 a 12 milhas.
O rio Ceará.
O rio Ceará, que nasce no âmago do continente, desemboca a sete milhas e meia ao norte da baía de Mucuripe, a 3o e 40' de latitude sul.
De acordo com o relato dos que os viram diversas vezes, os brasileiros ou moradores dessa Capitania têm estatura avantajada, traços feios, cabelos longos e tez escura, exceto entre os olhos e a boca. Costumam furar as orelhas que lhes pendem até os ombros; também furam os lábios e alguns o nariz e introduzem pedras nesses orifícios, como enfeite. Alimentam-se de farinha, aves silvestres, peixes e frutas. Bebem, habitualmente, água, mas também fabricam um certo licor, de farinha, e, ultimamente, começaram a se habituar com a aguardente de cana que, entretanto, não se lhes permite levar para suas aldeias, a fim de não abusarem das bebidas alcoólicas. A região produz cana de açúcar, cristal, algodão, pérolas, sal e vários outros gêneros. Em suas praias também se encontra âmbar cinzento.
Em 1630, o interior da região era governado por um rei nativo conhecido por Algodão, sujeito, até certo ponto, aos portugueses, que lhe construíram um forte no rio Ceará e dominaram toda a zona litorânea adjacente. Entretanto, lusos e silvícolas viveram sempre em contínua discórdia até 1638, época em que o forte e toda a região foram conquistados pelos holandeses da maneira que passamos a relatar.
O Ceará conquistado pelos holandeses.
Os nativos dessa zona solicitaram ao Conde Maurício e ao Conselho que tomassem o forte português lá existente a fim de libertá-los da opressão em que viviam. Para tanto ofereciam sua aliança, dando, como penhor de fidelidade, dois jovens de suas melhores famílias. Os batavos decidiram-se a realizar a expedição. Confiou-se a Joris Garstman o comando das tropas destacadas para a operação. Esse homem era de indiscutível valor militar; entretanto a empresa, como mais tarde se verificou, não oferecia grande dificuldade, à vista da cooperação dos nativos que, além de nutrirem ódio de morte aos portugueses, estavam bem informados sobre a força da guarnição e conheciam perfeitamente as condições locais. Garstman abasteceu-se de navios, homens, munições e tudo o mais necessário para a campanha e rumou para o rio Ceará. Lá chegando, desembarcou suas forças, e, recebendo o rei Algodão que se aproximara com bandeiras brancas, em sinal de paz, incorporou à tropa os 200 nativos que acompanhavam este último. A força, assim constituída, marchou diretamente contra o forte que foi capturado após valorosa resistência dos portugueses, alguns dos quais perderam a vida. Grande parte da guarnição, na qual se encontravam militares de valor, caiu prisioneira dos holandeses. Foram capturados, também, três canhões e boa quantidade de munição. Depois disso, construíram os nossos um pequeno forte