Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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Os canaviais poderiam ser protegidos por meio de cercas de pau-a-pique, evitando assim que fossem danificados.

A importância dessa ilha.

É tal a importância em que se tem essa ilha, que já se chegou a propor a transferência para lá, da sede do Brasil holandês. Não concordaram, porém, com esse alvitre os diretores da Companhia, alegando que a ilha ainda era, então, deserta, enquanto que no Recife já havia comércio estabelecido e bons edifícios à sua disposição. Além disso, o lugar era muito mais aprazível, mais fértil, melhor fortificado e seu porto muito conveniente para a navegação. Por outro lado, o rio Itamaracá não era navegável senão por embarcações pequenas, dada a pouca profundidade de seu estuário, já famoso pelos numerosos naufrágios ali ocorridos. A escassez de água potável, no Recife, no que a ilha é tão abundante, pode ser remediada pelo rio Beberibe; a propósito, vários reservatórios já haviam sido instalados no Recife, para seu abastecimento. Durante a guerra com os portugueses, foi-nos dado apreciar as grandes vantagens que podíamos tirar dessa ilha, pois, dadas as suas naturais condições de segurança, ainda aumentadas pelas fortificações ali construídas, se tornava possível, em qualquer emergência, operar, para lá, uma retirada estratégica. Ademais, a manutenção da ilha em nosso poder era indispensável porque era lá que o Recife se abastecia de pescado e toda a sorte de vitualhas.

Sobre a barranca do rio, à entrada meridional do porto, construímos um forte quadrangular, ao qual demos o nome de Orange. Sua muralha era excelente, embora o fosso não apresentasse boa profundidade; além disso mantinha-se quase sempre seco, motivo pelo qual fomos obrigados a fortificá-lo com paliçadas. Pelo lado setentrional havia um hornaveque em ruínas. No interior do forte existia um paiol de pólvora e comodidades para alojamento dos soldados. Sobre as muralhas instalaram-se várias baterias com seis canhões de bronze e outros tantos de ferro. Na ilha próxima à desembocadura do rio, junto a um pântano repleto de espinheiros, estendia-se uma povoação densamente habitada por militares à qual os portugueses chamavam Nossa Senhora da Conceição.

Rocha suspensa

Sobre uma rocha suspensa erguia-se um velho reduto, construído pelos portugueses, que tinha o mesmo nome da povoação, o qual, juntamente com toda a ilha, foi tomado pelos holandeses sob o comando do coronel Schkoppe. Depois disso passou o lugar a chamar-se Cidade de Schkoppe. Posteriormente os holandeses fecharam esse forte pela retaguarda, na direção da igreja, de modo a servir tanto para a defesa da cidade, como do porto; o fortim, ao norte, defendia a entrada. Esse forte era artilhado com onze peças. À entrada setentrional do porto, outro reduto defendia a passagem com três canhões de ferro. Certo senhor, de nome Dortmont, que fora governador de Itamaracá, ao perfurar um poço, em