nos monturos e no oco das árvores. Chamam-na nhanduguaçú 1. Tecem teias semelhantes às das aranhas comuns, têm a pele áspera e negra e possuem pinças longas, agudas. Quando provocadas atacam com seu venenoso ferrão, quase invisível, ocasionando, na vítima, uma tumefação azulada que, se não for tratada a tempo, se transforma em inflamações seguidas de sintomas alarmantes, incuráveis.
Ballar ou cabito.
Próximo ao rio São Francisco há um inseto que não difere em muito do grilo europeu 2. Sempre tive grande curiosidade de ver um desses bichinhos, para me capacitar de sua semelhança com os outros de sua espécie. Apesar de seu trilar forte, parecido com o dos grilos, jamais consegui avistá-lo, pois, logo que a gente se aproxima, o inseto se cala e não se sabe mais em que direção procurá-lo. Chega às vezes a cantar um quarto de hora sem interrupção. Na ilha de Java, índias Orientais, geralmente se ouve o seu trilar nos meses de março e abril. 3 Finalmente, tive, certo dia, ocasião de tomar nas mãos um desses insetos, graças a uma chinesa que me havia visto procurá-lo na Batávia, tanto na cidade como fora dela. Os javaneses organizam lutas desses insetos e apostam como se costuma fazer nas rinhas de galo.
Felinos.
Há em Pernambuco e em todo o Brasil 4 grande abundância de felinos, tais como tigres, leopardos, etc. Lá os tigres, principalmente, são extremamente ferozes. Atacam os animais e, não raramente, os homens. Várias foram as pessoas vitimadas por eles durante a minha estada no país.
Certo português, senhor de um engenho de cana situado em lugar muito aprazível, achava-se um dia em casa, acompanhado de quatro pessoas de suas relações, quando se deu uma cena espantosa. Um de seus
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Nota 113: Nieuhof escreveu Nhanduguaka (p. 32, 1a coluna ). Em Marcgrave (LXX,248) está: Nhamdu sive variae Araneorum speeies. Batista Caetano explica (XLVI,570): yandú, s., aranha, s. avestruz. Convém não confundir com a Ema, chamada por Cardim (XIX, 50) Nhandugoaçú e que Rodolfo Garcia (id., 106) anota como Ema, citando o registro de Marcgrave. Realmente, Marcgrave escreveu (LXX, 190) Nhandu guaçú Brasiliensibus, Ema Lusitanis, diferenciou a Ema da Aranha, escrevendo para a primeira Nhandu e para a segunda Nhamdu. Trata-se de equívoco,pois nada autoriza essa diferença de m e n, visto Batista Caetano registrar yandútanto como aranha quanto como avestruz. O sufixo guaçú significa, como se sabe,grande; logo, avestruz ou aranha grande. A razão da confusão não podemos explicar. Além disso, Batista Caetano registra, também, nandui ou yanduí, s., aranha pequena,aranha que faz teias nas casas (III, 570).
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Nota 114: Nieuhof escreveu Kabito. Será a vespa vermelha, significação de cabítâ, registrada por Batista Caetano (III, 64) ou a branca, cabati (III, 64)?
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Nota 115: Na edição inglesa está escrito: fevereiro e junho (p. 23, 1a coluna , 1° §);cf. ed. holandesa (p. 33, 1a coluna , 3° §).
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Nota 116: No original encontra-se escrito: Men vind in Pernambuko en doorgantsch Brasil... (p. 33, 1a coluna, 5° §), enquanto que o tradutor inglês escreveu: _There are also abundanee of ravenous wild Beast in Brasil... _ (p. 23, 1a coluna, 3° §).
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