O Muton 1 é uma ave do tamanho de um pavão, de penas pretas, carne tenra e ótima. Como este país é rico em bosque e árvores frutíferas, possui, em abundância, gaviões e outras aves de rapina a que os portugueses dão o nome de gavião 2 e os brasileiros os de teguata e inage, 3 inimigos implacáveis das galinhas e dos pombos.
Dentre as aves agrestes que vivem tanto na água como em terra, reclamam precedência os patos selvagens. Alguns deles são menores que os europeus, outros, porém, são bem maiores, quase do tamanho do ganso. Há, também, uma espécie de perdiz a que chama de jaçana-mirim e jaçana-guaçú 4 e, além destas, grous, codornas e muitos outros galináceos. A carne destas variedades é, em geral, aceitável, embora não muito saborosa.
Todas essas aves apreciam o âmbar que o mar, em sua agitação, atira à praia, ao qual devoram antes que o homem possa colhê-lo.
Periquitos.
Há ainda, no Brasil, em grande abundância, papagaios pequenos, chamados periquitos, que nunca chegam a falar 5. Os papagaios propriamente ditos são, porém, lindíssimos e grandes; alguns deles conseguem falar tão claramente quanto o homem. Vi alguns desses papagaios repetir nitidamente quanto ouviam apregoado pelas ruas. Dentre eles lembro-me de um que, encerrado numa cesta, conseguia fazer que um cachorro, da mesma casa, fosse sentar-se junto a ele. Para isso gritava incessantemente até que o cão obedecesse: "Sente-se aqui, sen-
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Nota 106: Soares (LXXXVI, 262). Varnhagen (LXXXVI, nota 153, pp. 470-71)diz que mutum é exatamente o crax rubrirostris de Spix (Av. II, Tab. 67, Cf. XCIV). Abbeville escreve Moyton (XXXVIII, 52). Rodolfo Garcia anota: nome genéricodos cracidas. De mytun por pytum e pytuna, noite, escuro, negro por extensão;originalmente, qualificativo, dizendo pássaro negro ou escuro. - Para alguns é onomatopaico. Laet escreve Mutu ou Mouton (L, 491). Cardim escreve Mutú (XIX, 49).Nieuhof copiou este trecho de Piso (cf. LXX, p. 10); em Marcgrave (LXX, p. 194),Mitu ou Mutu; em Léry (LII, p. 135), Muton.
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Nota 107: Nieuhof escreveu guavilon (p. 31, 1° §), seguindo, aliás, conforme dissemos na nota anterior, Piso (LXX, 10), que escreve guavilaon. Marcgrave (LXX,211) escreveu: Caracara Brasiliensibus, Gaviaon Lusitanis.
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Nota 108: Teguata e Inage escreveu Nieuhof. Este trecho foi copiado de Piso (cf. LXX, p. 10), que registrou Teguato e Inage.
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Nota 109: Nieuhof (p. 31, 1a coluna ) escreve Jakana-miri e Jakana-guaku. Em Piso, iacana miri & iacana guacu (LXX, 10)- Em Marcgrave, (LXX, p. 190): Iacana dos brasileiros". Em Batista Caetano (III, 566) se lê: "yaçana, nome genérico das aves Parras, galinha d'água"; Teodoro Sampaio (LXXXI, 134) escreve jaçanã, o que grita forte, o que tem grito intenso (parra jaçanã). Rodolfo Garcia (XXXIX,32) explica deste modo a etimologia: y, demonstrativo = o que, aquele que: eça =olho -f- ena = alerta; o que está de olho alerta. Batista Caetano (XLVI, 312)registra, também, nahanâ = yaçanâ, s., nome da ave Parra jaçanã (n - eçá - enâ,o que está de olho alerta ou erguido".
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Nota 110: Nieuhof (p. 31, 1a coluna ) escreve perkietjes e papegayen. Marcgrave(LXX, 206) dá 7 espécies de papagaios.[/i]
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