Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 40


os holandeses a denominam ganso selvagem. Tem o tamanho de um de nossos gansos de oito a nove meses 1 de idade e a eles se assemelham em todos os aspectos. O ventre, a parte inferior da cauda, assim como o pescoço, são cobertos de penas brancas, mas, sobre o dorso, até a nuca, nas asas e na cabeça, as penas são pretas, entremeadas de algumas verdes. Vêem-se também penas pretas intercalando as brancas, no pescoço e na barriga. Distingue-se dos nossos gansos por ser um tanto maior. O bico assemelha-se ao das patas européias, sendo, porém, preto e revirado na ponta. Sobre este se estende um pedaço de carne preta, arredondada, com manchas brancas. Esses gansos são encontradiços nas margens dos rios; têm carne abundante e saborosa.

Tucano ou Bico Grande.

O pássaro que os brasileiros chamam tucano 2 tem o tamanho aproximado do pombo silvestre. Possui um papo cor de açafrão, de três a quatro dedos de diâmetro, em torno do peito, com penas de um vermelho vivo pelos bordos. O peito é amarelo e o dorso preto, como as demais partes do corpo. Seu bico é enorme, de quase um palmo de comprimento, sendo externamente amarelo e vermelho por dentro. Parece incrível que pássaro tão pequeno se possa haver com bico tão grande, embora seja este muito leve e fino.

O pássaro soco.

O pássaro conhecido pelos naturais como soco 3 é uma espécie de grou, muito bonito de se ver e do porte de uma cegonha. Seu bico, de seis dedos de comprimento, é reto, aguçado e de uma cor amarelada tocada a verde. O pescoço tem quinze dedos de comprido, o corpo dez e a cauda cinco. As pernas são cobertas até ao meio de penas brancas, a outra metade é lisa. O pescoço e a garganta são brancos e as partes laterais da cabeça são pretas, mescladas de cinzento. Na parte inferior do pescoço há penas brancas lindíssimas, leves e finas, que


  1. Nota 99: Nieuhof, traduzindo Marcgrave, escrevera: ais een gans van acht of negen maenten (p. 29, 2a coluna , 2° §) ; o tradutor inglês escreveu (p. 20, 1a coluna , 2° §) : of one of our geese of about nine months old.

  2. Nota 100: Mais uma vez Nieuhof traduziu para o holandês o texto latino de Marcgrave (Cf. LXX, p. 217): - Barlaeus (VII, p. 139). Cardim, (XIX, p. p. 48) escreve Tucána. Soares (LXXXVI, p. 264). Abbeville (XXXVIII, p. 81) menciona o Toucan. Segundo Rodolfo Garcia (XXXVIII, p. 81), Thevet foi o primeiro a descrever a ave e a dar-lhe o nome indígena. Para Batista Caetano (III, p. 541) lucanà vem de ti - cang - bico ósseo, língua óssea ou ainda túb - cáb - quebra ovos. Nieuhof escreve Toukan (p. 30, 1a coluna ). Para Teodoro Sampaio (LXXXI, p. 154) é a seguinte a etimologia do nome: tu - quã, bico que sobrepuja, exagerado.

  3. Nota 101: Nieuhof (p. 30, 1a coluna , 5° §) escreveu Kokoi. Marcgrave (LXX, 209 foi ainda desta vez furtado. O engano gráfico de Nieuhof vem disso, porque Marcgrave escreveu cocoi. Piso (LXXI, 89). Conforme anota Rodolfo Garcia (XXXIX, 43-44) çocoi - nome específico atribuído à ave pelos naturalistas antigos, é o equivalente de soco, apenas diferençado pela grafia latina daqueles escritores, à qual era estranho o ç. Baseado em Batista Caetano (III, 95), Rodolfo Garcia dá a seguinte etimologia: ço = ir + co = batendo. É da família Ardeidae.