schüt-verken 1 (porco-couraça) por ser protegido com escamas semelhantes às de uma armadura, lembra, no volume e na forma, os nossos suínos. Há diversas variedades desse animal. A parte superior do corpo, assim como a cabeça e a cauda são cobertas por uma couraça óssea, constituída por escamas muito finas. Sobre o dorso há sete divisões entre as quais aparece a pele, de um pardo escuro. A cabeça assemelha-se à de um porco, com o focinho pontudo, com o qual procuram focar tudo quanto encontram pelo chão. Os olhos são exíguos e profundamente encravados nas órbitas; a língua é pequena e aguçada; as orelhas, castanho-escuras e curtas, sem nenhum pêlo ou escama. A cor de todo o corpo tende mais para o vermelho. A cauda tem, no começo, cerca de quatro dedos de espessura, mas vai se adelgaçando gradativamente, para se arredondar na ponta, como a dos suínos comuns. O ventre, o peito e as patas são destituídos de qualquer escama, porém cobertos por uma pele não muito diferente da do ganso, com pelos esbranquiçados do comprimento de um dedo. Esse animal é, geralmente, muito gordo; vive de ervas e raízes e danifica consideravelmente as plantações. Cava buracos no chão, devora coelhos e pássaros mortos bem como quaisquer outras carcaças. Bebe muito; vive a maior parte do tempo à superfície da terra, mas gosta de água e dos lugares pantanosos. Sua carne é comestível. Caça-se o encoberto da mesma forma que a lebre na Holanda; os cães acuam denunciando sua toca; abre-se então o buraco e no fundo encontra-se o tatu.
Morcegos.
Os morcegos do Brasil, a que os nativos chamam andirica 2, têm o tamanho de nossas gralhas. São muito bravos e atacam violentamente com seus aguçados dentes. Costumam construir seus ninhos no oco das árvores e em buracos.
Gansos selvagens.
A ave que os brasileiros chamam de Ipecati apoa e os portugueses de pato 3 nada mais é, na verdade, que um ganso, e, por essa razão,
-
Nota 96: Marcgrave (LXX, 231) escreve: Tatu & Tatu-Peba Brasiliensibus, Armadillo Hispanis, Encuberto Lusitanis: Belgae nostri vocant een Schild-Vercken Laet (L, 485); Piso (LXXI, 100) menciona, também, Tatupeba, Tatu eté, Tatu apara. Barlaeus (VII, 138) ; Frei Vicente do Salvador (LXXVIII, 41); Gandavo (XXXVI, 103); Abbeville (XXXVIII, 78) registra Tatou e Tatou Ouãssou; Gabriel Soares de Souza (LXXXVI, 295); Cardim (XIX, 35). Batista Caetano (III, 490) explica-nos que significa casca densa; entre os citados por Piso - Tatupeba e Tatu apara - o mesmo autor esclarece: peb é chato e apara arqueado (esse é o tatú-bola em português).
↩ -
Nota 97: Marcgrave (LXX, 213) continua sendo a fonte de Nieuhof. Escreve o citado autor Andiriaca. Batista Caetano (III, 34) registra andirá, morcego, escrevendo que se encontra, também, andira por atua, que significa topete, cabelo em monte, topetudo (idem, 53).
↩ -
Nota 98: Esta descrição constitui mais um plágio de Nieuhof. (cf. com Marcgrave, (LXX, p. 218). Piso (LXXI, p. 82). Batista Caetano (III, p. 204) registra ipegatiapua, pato de crista ou pato de cousa sobre a cabeça erguida.
↩