Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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chamam ao primeiro tamanduá-í e ao último tamanduá-guaçú 1. Trata-se de um quadrúpede do tamanho de um cão, cabeça redonda, focinho longo, boca pequena e desdentada. Sua língua é arredondada, atingindo às vezes 25 polegadas, ou seja, 3 pés 2 e meio de comprimento. Quando quer se alimentar, estende a língua sobre os monturos, até que as formigas nela se instalem, para depois engoli-las. Suas orelhas são redondas e a cauda muito áspera. Esse animal não é esperto e pode ser facilmente agarrado à mão, pelos campos. O menor, chamado tamanduá-guaçú, é do tamanho de uma raposa brasileira, com cerca de um pé de comprimento. Nas patas dianteiras Possui ele quatro garras recurvas, sendo duas grandes ao meio e duas menores aos lados. Tem a cabeça redonda, afinando para a extremidade e ligeiramente curva para baixo. A boca é preta e sem dentes. Os olhos são muito pequenos e as orelhas, do tamanho de um dedo, mantêm-se sempre eretas. Duas largas listas pretas correm de ambos os lados de seu lombo. Os pelos da cauda são mais compridos que os do dorso, mas a ponta do rabo é isenta de cerdas, pois serve para se apoiar nos ramos das árvores. Os pelos de todo o corpo são amarelo-pálido, duros e brilhantes. A língua é redonda, atingindo a cerca de oito dedos de comprimento. É um animal muito selvagem, procura apanhar tudo com as suas garras e se for agredido a cacete, põe-se ereto como um urso e tenta, com a boca, tomar o pau do agressor. Dorme o dia inteiro com a cabeça e as patas dianteiras sob o pescoço e vaga durante a noite. Quando bebe, a água escorre imediatamente pelas narinas.

Há, também, no Brasil, uma variedade de cobra do comprimento de duas toesas, sem pernas, com a pele de variegadas cores e provida de quatro dentes. A língua é fendida ao meio, assemelhando-se a duas setas e o veneno oculta-se numa vesícula situada na cauda.

Porco-couraça.

O quadrúpede que os brasileiros chamam de tatu e tatupera, os espanhóis de armadillo, os portugueses de encoberto e os holandeses de


  1. Nota 94: Marcgrave (LXX, 225) mencionou as duas variedades. Sobre o primeiro, escreveu: Tamandua-i Brasiliensibus, Belgis Klein Mierenetor Animal vulpeculae Amerieanae magnituãine, vel paulo major. Sobre o segundo (ibid.) escreveu: Tamandua-Guasu Brasiliensibus, Congensibus (ubi & frequens est) Vmbulu; Belgae appellanl de Groote Miereneter. Animal magnitudine canis Lanionwm.. , Laet (L, 556). Piso (LXXI, 9) escreveu Tamendoá. Barlaeus (VII, 138). Em Soares, (LXXXVI, 289) encontra-se Tamandoá. Em Cardim (XIX, 34) tamanduá. Gandavo (XXXVI, 106). Frei Vicente Salvador (LXXVIII, 41) escreve Tamandoçú. Em Abbeville (XXXVIII, 47) encontram-se as duas variedades: Tamandouá e Tamandouáy. Batista Caetano (III, 476) acha difícil admitir-se taei - monduár, caça formigas e prefere tama - pelos e uguai - cauda, fácil de mudar-se em nduai. Rodolfo Garcia (XIX, 99) acha que o primeiro étimo condiz melhor com o modo de viver do animal. São três as espécies da famílias dos Mirmecofagídeos.

  2. Nota 95: O tradutor inglês escreveu dois pés e meio (p. 19, 1a coluna , 2° §); cf. ed. holandesa (p. 28, 1a coluna , 5° §)