Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 28


Há também diversas qualidades de serpentes 1 no Brasil, tais como a cascavel, a serpente de duas cabeças e outras, das quais os brasileiros enumeram vinte e três, a saber: Boiguaçú ou gibóia, 2 arabo, 3 boibí, 4 boicininga, 5 boitrapo, 6 boicupecanga, 7


  1. Nota 54: Esse trecho referente às cobras é totalmente inspirado em Piso, pois até a enumeração é a mesma (Cf. V, 4070). Piso, naturalmente, observa-as de um ponto de vista médico, especificando os antídotos. O livro III "De Venenis Eorumque Antidotis" foi que serviu de fonte a Nieuhof. Marcgrave descreve mais minuciosamente as serpentes que lhe fora dado conhecer. A sua lista não é, porém, tão longa quanto a de Piso, embora as descrições e desenhos, que faz, demonstrem o melhor conhecimento de ofiologia. As diferenças da grafia de Piso e Marcgrave com a de Nieuhof são mínimas. Procuramos, sempre, anotar as de Piso e Marcgrave, pois são, inquestionavelmente, mais autorizadas. (Veja-se p. 2224 de Nieuhof e compare-se com Marcgrave (LXX, pp. 239241) e Piso (LXX, 4044).

  2. Nota 55: Marcgrave (LXX, 239) escreve: "Boîguacú Brasilianis, cobra de veado Lusitanis", Piso (LXXI, 41) escreve: "Boiguacu, sive Iiboya, cobre de veado, Lusitanis"; Soares (LXXXVI, 304); Barlaeus (VII, 382), Cardim (XIX, 40) escreve: "Esta cobra que por cá ha, e algumas que se acham, de 20 pés de comprido; são galantes, mas mais o são em engulir hum veado inteiro". Rodolfo Garcia (XIX, 101) anota que ela pertence à família dos Boídeos (constrictor constrictor, L). Batista Caetano (III, 250) explica: "traga cobras, donde o nome mboiçuai, o que traga muitas cobras, nome dado a uma espécie de gibóia que devora as outras: mboiguaçu, outro nome dado à gibóia". Artur Neiva (LXII, 334) dedica ao nome gibóia grande número de páginas, estudando-o demoradamente.

  3. Nota 56: Piso (LXX, 42) descreve-a. Marcgrave não a menciona. Teodoro Sampaio (LXXXI, p. III) fala de araboya, a cobra do ar, a serpente que salta pelos ares. Gabriel Soares (LXXXVI, 306) escreve sobre a araboya, cobra que se cria nos rios e lagos. Waegler fala de Araramboya (Cf. XCIV, 45).

  4. Nota 57: Nieuhof escreveu Bioby (p. 22, 1a coluna ) e depois Boiobi (p. 24, 1a coluna ). Barlaeus (VII, 138) ; Margrave (LXX, 239) descreve-a como de grande boca, língua preta e venenosa. Piso (LXX, 34) escreveu: "Boiobi, Brasiliani, cobra verde Lusitanis". O Sr. Cláudio Brandão equivocou-se ao escrever que é a mesma caninana de Cardim e caninam de Gabriel Soares. Várias razões demonstram claramente o erro em que laborou. Em primeiro lugar, Nieuhof, baseado em Piso, distingue bem a Boiobi da Caninana, pois essa está descrita por ambos em outras passagens de seus trabalhos (Cf. nota 84); em segundo lugar, Piso ao descrever a Boiobi diz (LXX, 43): "Boiobi Brasiliensibus, Lusitanis cobre verde."; enquanto que para Caninana diz (LXX, 43): "Caninana serpens, ventre est flavo, dorso autem viridi.". Ora, uma é a cobra verde, enquanto que a outra tem o ventre amarelo e o dorso é que é verde. Acresce que, se houvesse lido Soares (LXXXVI, 310) com atenção, teria verificado que este cronista descreve a Caninana como "cobras meãs na grandura, com a pele preta nas costas e amarela na barriga" e logo a seguir registra a "Boibu que quer dizer cobra verde, que não são grandes...". No próprio Nieuhof as duas variedades são bem diferentes. Finalmente, segundo Batista Caetano (III, 262), mbóyobi significa "cobra azul ou verde ou mboihobi que é cobra azul ou verde, que por ser mui ligeira podia ser mboí aíbi... " Compare-se com as notas 63 e 81.

  5. Nota 58: Barlaeus (VII, 138); Piso (LXX, 41) escreve: Boicininga, à qual os espanhóis chamam Cascavel ou Tangedor; Marcgrave (LXX, 240) assim a descreve: "Boicininga & Boicinininga & Boitininga atque etiam Boiquira Brasiliensibus: Ayug, Tapuyis: Lusitanis cascavela, Belgis Kaetel slange". Soares (LXXXVI, 308); Laet (L, 488) regista: Boycininga. Varnhagen, em nota de número 186, p. 476 (LXXXVI) escreve que "Boicininga caíu em desuso, só ficando o de cascavel." Cardim (XIX, 42). Para Batista Caetano (III, 250), a palavra é formada de mboíchinî = mboitinî, isto é, boi tinini em tupí, onomatopaico, para significar cobra tintinante também aguaí, cobra de guizo ou cascavel (III, 25). Segundo Teodoro Sampaio (LXXXI, 116), a palavra é composta de mboy - cyninga - cobra ressonante.

  6. Nota 59: Piso (LXX, 42) menciona "Boitiapô Brasiliensibus; Lusitanis, cobre de cipo.." e Marcgrave (LXX, 241) escreve: "Boitiapo Brasiliensibus; Lusitanis cobra de cipo." Segundo Waegler e Spix, Natriz Bicarinata (XCIV, 24).

  7. Nota 60: Piso não descreve essa cobra e tão somente a menciona na lista em que enumera as várias espécies. (Cf. LXX, 40). Laet (L, 488). Cardim (XIX, 41) escreve: "cobra que tem, espinhos pelas costas, he muito grande e grossa, os espinhos são muito peçonhentos e todos se guardão muito dellas". Rodolfo Garcia declara achar difícil interpretar esse nome.