O CAMALEÃO, OU SALAMANDRA DA ÍNDIA TAMBÉM CONHECIDA POR GECO
Este animal - conhecido entre os holandeses pelo nome de Geco 1 devido ao seu grito peculiar, - encontrado também na ilha de Java, Índias Orientais, é mais propriamente a salamandra indiana. Tem cerca de um pé de comprimento; sua pele é de coloração verde-mar, pálido, com manchas vermelhas. A cabeça não difere da de uma tartaruga que tivesse a boca reta. Os olhos são grandes e protuberantes, com pupilas longas e miúdas. Na cauda vêem-se vários anéis brancos. Os dentes são tão afiados que chegam a marcar o próprio aço. Cada uma de suas quatro pernas tem cinco dedos dotados de garras recurvas nas pontas. Fecha-os lentamente, mas, quando agarram em qualquer cousa, dificilmente soltam. O animal vive geralmente em árvores podres ou nas ruínas abandonadas de prédios e igrejas. Aloja-se, às vezes, junto às camas, fazendo com que os negros removam suas tendas.
O mais forte veneno do mundo.
Seu grito habitual é Geco, mas, antes de o começar, produz um ruído semelhante a um chiado. A mordedura desse animal é de tal forma venenosa que o ferimento é quase sempre mortal, se não for cauterizado imediatamente com ferro em brasa ou mesmo cortado. O sangue desse animal é de cor pálida, semelhante ao próprio veneno. Os javaneses costumam mergulhar a ponta de suas setas no sangue desse animal. Os que entre eles se dedicam à manipulação de venenos (arte muito apreciada na ilha de Java, tanto pelos homens como pelas mulheres) suspendem o animal pela cauda, num cordel atado ao teto com o que conseguem enraivecê-lo ao máximo, fazendo-o expelir pela boca um líquido amarelo que colhem em pequenas vasilhas e que, a seguir, levam ao sol para coagular. Assim procedem por vários meses seguidos, alimentando diariamente o animal. É este indiscutivelmente o veneno mais violento do mundo. A urina desse réptil é de natureza tão corrosiva, que não só cobre de bolhas onde quer que toque a pele, mas a deixa negra e produz a gangrena. Dizem os habitantes das Índias Orientais que o melhor antídoto contra esse veneno é a raiz de Curcuma. Apanhamos um Geco, no interior de uma igreja no Recife, que nos obrigou a abrir grande rombo na parede, para desalojá-lo.
-
Nota 53: Marcgrave escreve sobre o camaleão: "Senembi Brasiliensibus, nobis iguana, cameliaon (sic), Lusitanis falso, & falsissime Belgis Leguan" (LXX, 236). Parece tratar-se de nome onomatopaico. Jacob Bontius foi dos primeiros a observar não só a salamandra da Índia, como o Geco. (LXXI, 57).
↩