Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 26


Ilha de Antônio Vaz e a Cidade Maurícia. A ponta de terra próxima a Olinda era conhecida por Tipo entre o povo.

Sobre a mais alta colina dessa região existia outrora um convento de jesuítas, construção magnífica, mandada construir por D. Sebastião, rei de Portugal, que o dotou de grande patrimônio 1. De lá a vista era belíssima e o convento podia ser visto do mar, a grande distância. Não muito longe deste havia outro mosteiro pertencente aos capuchinhos, e, próximo à praia, ainda outro dos frades dominicanos. Além desses havia duas igrejas, uma chamada São Salvador e outra São Pedro.

A cidade tinha mais de 2.000 habitantes, fora escravos e eclesiásticos; dentre estes, cerca de duzentos passavam por ser muito ricos 2. Ao pé da montanha sobre a qual a cidade de Olinda fora edificada, levantava-se um forte reduto que, em 1645, foi, por um sargento subornado, entregue aos portugueses por traição 3. A cerca de uma milha da cidade, junto ao mar, achavam-se os subúrbios, densamente povoados e repletos de armazéns, mas faltos de água potável que a população era forçada a procurar além do rio.

Toda a região de Pernambuco é fértil em frutas e rica em gado. Há excelentes pastagens pelos vales, e, nas zonas baixas, próximas aos rios, existe grande quantidade de cana de açúcar, que é muito cultivada nas redondezas. As montanhas são aí mais ricas em minério 4 que em qualquer outra Capitania. Durante a estação chuvosa o calor do dia é mais tolerável que o frio à noite.


  1. Nota 49: Nieuhof escreveu o mesmo que Barlaeus sobre o convento dos jesuítas. (Cf. VII, 40).

  2. Nota 50: Encontravam-se no Brasil holandês monges franciscanos, carmelitas e beneditinos. Os primeiros eram mais numerosos, e os últimos os mais ricos (Cf. XLVI, 197). Realmente, os franciscanos eram os mais numerosos, pois possuíam 5 conventos, a saber: 1) Frederica, 2) Igarassú, 3) Olinda, 4) Ipojuca, 5) Serinhaém Todos os conventos eram belos edifícios. Possuíam, ainda, um pequeno convento no Capibaribe, acima do Massurepe. Viviam de esmolas, pois não possuíam terras, nem rendas. Os carmelitas possuíam 2 conventos: um na Paraíba, sem grande importância, e outro em Olinda. Tinham como patrimônio algumas casas por eles construídas e alugadas ou construídas por outros, obrigando-se os possuidores a pagarem foros. Os beneditinos possuíam dois conventos; um na Paraíba, belo e pequeno, e outro em Olinda, belíssimo. Possuíam um canavial, no engenho das Barreiras, na Paraíba. Em Pernambuco, esta ordem possuía um bom engenho, denominado Massurepe, com extensas terras. (Cf. XV, 161).

  3. Nota 51: Esse sargento foi subornado por Hoogstraeten e o reduto é a guarita de João Albuquerque, a uma légua do Recife. (Cf. XVII, p. 246). Moreau relata-nos que por 1.000 libras e o cargo de mestre o Sargento entregou o forte com 14 soldados que o guarneciam (LIX, p. 86). Vide nota 293.

  4. Nota 52: As explorações holandesas foram várias. Todas resultaram infrutíferas. Sobre a história dessas explorações, consulte-se Alfredo de Carvalho (XXI). Conforme asseverou Pandiá Calógeras: "as explorações modernas nada confirmam dessas jazidas de metal branco". (XVIII, 2° vol. p. 448).[/i]