Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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do costume de serem os navios recebidos entre os recifes de pedra e de areia para carregar e descarregar suas mercadorias. Antes de se fundar a Cidade Maurícia, lá mantínhamos as nossas fábricas e todos os negócios de paz como de guerra eram lá entabulados. No tempo dos portugueses, todos os navios que chegavam do mar descarregavam na aldeia de Povoação ou Recife, e as mercadorias eram de lá transportadas, em barcos e chatas, pelo rio Beberibe acima, até os subúrbios de Olinda.

Antes de se edificar a Cidade Maurícia, a maior parte dos negócios se fazia no Recife, onde residiam os principais comerciantes e era de lá que se exportava o açúcar para a Holanda. Para evitar contrabandos, cercou-se a alfândega com abatises. Construiu-se um bom hospital para doentes e feridos de tudo necessitados, e a educação dos órfãos ficou a cargo de quatro diretores e outras tantas diretoras, que ensinavam a ler e escrever.

Na ponta extrema do recife de pedra, à esquerda de quem entra no porto, vindo do mar, há um grande e forte castelo, edificado sobre a rocha viva e cercado de altíssima muralha. O castelo é dotado de artilharia pesada e mantém sempre boa reserva de provisões. Quando conquistamos a praça, encontramos no interior dessa fortaleza 9 canhões de bronze e 22 de ferro, parecendo-nos que seria ela inexpugnável, tanto pela sua construção como pelas condições naturais, pois dela não se pode aproximar a pé, durante a maré alta.

Cerca de cinco milhas mais acima, junto a um afluente do grande rio, encontra-se uma pequena cidade, sem importância, que nossa gente chamava de Cidade Nova, e, sobre outro afluente do mesmo rio, do lado oposto à primeira, uma aldeia chamada Atapuepe.

A ILHA ANTÔNIO VAZ E A CIDADE MAURÍCIA

A ilha de Antônio Vaz.

Para o sul do Recife, do lado oposto, encontra-se a ilha de Antônio Vaz, que a nossa gente assim denominou em referência ao seu antigo proprietário. Tem cerca de meia légua 1 de perímetro, achando-se separada do Recife pelo rio salgado Beberibe.


  1. Nota 42: Pela primeira vez o autor escreveu légua (een halve uure gaens, p. 16, 2a coluna, últ. §). O tradutor escreveu, também, légua, como antes o fizera sempre, em lugar de milha.