Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 16


deráveis às nossas colônias, o que obrigou o Conde Maurício a desalojá-la daquela posição. Entretanto, como este estivesse atacado de febre na ocasião, confiou a expedição ao Coronel Schkoppe 1. Para esse fim reuniu-se um corpo de 2.300 homens, além de 400 brasileiros e 250 marinheiros procedentes das praças vizinhas, próximas do rio S. Francisco, de Alagoas, do cabo de Santo Agostinho, das imediações do Recife e Muribeca. Tendo como auxiliar Joannes van Giselen membro do Grande Conselho, ordenou o Coronel Schkoppe ao almirante holandês Lichthart que cruzasse com sua frota à altura da Baía de Todos Santos para atrair o inimigo fora de suas vantajosas posições fortificadas da costa. Tão depressa teve ciência de que havíamos atravessado o rio, e, temeroso de ser envolvido a um tempo pelas forças de terra e mar, o general espanhol retirou-se, com seu exército, para a Torre Garcia d'Ávila, posição situada a cerca de 14 milhas ao norte da cidade de São Salvador.

Sabedor desse movimento o general Schkoppe, atacou imediatamente a praça, que deixou despovoada e regressou com incrível rapidez para a margem sul do rio São Francisco.

Aí se entrincheirou, com o propósito de hostilizar o inimigo, cortando-o abastecimento e desbaratando-o gado. Nessa operação foram bem sucedidas as nossas forças, que conseguiram matar para mais de 3.000 bois, além de muitos outros que desgarraram para a outra margem do rio. Os que escaparam aos soldados foram transportados pelos habitantes da região para a Baía de Todos Santos. Isso dá bem idéia da enorme quantidade de gado que esta região então produzia.

O Grande Conselho tomou, então, a deliberação de repovoar aquela zona do país, entendendo-, para esse fim, com Nunno Olferdi, conselheiro de Justiça, em Recife, que achou meios de para lá encaminhar várias famílias, solução que a seguir se abandonou por não ter sido aprovada pelo Conselho dos XIX.

Em 1641 o Conde Maurício submeteu essa região à jurisdição da Companhia das Índias Ocidentais. Lá erigiu um forte e cercou a cidade de Sergipe d'El Rei com um fosso, entre o S. Francisco e o Real, que pode, na enchente, atingir 14 pés de profundidade. Dentro desta Capitania existe uma montanha denominada Itabaiana onde se encontraram várias peças de metal precioso que, remetidas ao Conselho dos XIX, e, devidamente examinadas, provaram ser de pouco valor.


  1. Nota 30: A grafia de Nieuhof é muito flutuante e não parece ser a certa. Nieuhof escreveu tanto Schop como Schoppe. A grafia correta é Schkoppe, dada por Netscher (Cf. LXIII, p. 182), segundo a assinatura do coronel e encontrada em um documento oficial do Arquivo Real; seu título de nobreza era Senhor de Krebsbergen, Grana Cotzen.