Tem a aldeia duas ruas, sendo que a principal se estende paralelamente ao rio, de um forte a outro. Chama-se rua de São José e não contém mais do que umas três casas de um único pavimento e cerca de 35 ou 36 outras cobertas de sapé, construídas sobre o chão raso 1. Os portugueses levantaram, do outro lado do rio, uma igreja em lugar das que foram demolidas quando se fizeram as fortificações e onde às vezes ouvem missa.
A aldeia é favorecida por um clima ameno e puro e continuamente refrescada por brisas marítimas que sobre ela sopram livremente, sem montanha alguma que lhes sirva de anteparo.
À noite o terreal sopra sobre a aldeia os frescos vapores dos rios próximos.
Existiu outrora certa cidade, chamada Sergipe d'El Rei, um pouco mais para cima do rio Vasa barris em lugar muito desolado, cidade essa de área extensa, bem construída, com três boas igrejas e um mosteiro de franciscanos, mas sem fortificações alguma. Mais para cima dessa cidade, pode-se ainda ver uma capelinha dedicada a São Cristóvão, para onde os católicos romanos se dirigem em peregrinações.
Foi esta Capitania primeiramente subordinada ao domínio português ou espanhol por Cristóvão de Barros 2 a quem, por tão bons serviços, foram doadas todas as terras entre o pequeno lago de Sergipe e o São Francisco, com amplos poderes para colonizá-las, dentro de certo prazo. Isto fez com que os habitantes da Baía de Todos os Santos para lá se dirigissem e, dentro de poucos anos, lançada a fundação da cidade, construíram-se quatro engenhos de cana e ergueram-se cerca de 100 casas, com 400 estábulos para o gado. A nossa gente, porém, fez com que essa cidade fosse abandonada em 24 de dezembro de 1637, bem como todas as casas circunjacentes, retirando-se, então, todos os habitantes para a Baía de Todos os Santos. Deveu-se esse fato ao general espanhol Bagnoli 3 que antes ocupava a praça com cerca de 2.000 homens que praticavam toda sorte de pilhagens e incêndios e causavam danos consi-
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Nota 27: A edição inglesa se refere a 35 casas (p. 7, 1a coluna , últ. §), enquanto que na edição holandesa consta: 35 ou 36 casas (p. 11, 2a coluna , 5° §).
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Nota 28: Foi, realmente, Cristóvão de Barros que iniciou a conquista e colonização desse Estado. Era governador interino da Baía, em 1590, e tivera ordem de ElRei Filipe II "a requerimentos dos povos d'entre rio Real e Itapicurú, que vivião inquietados pelos indigenas deste paiz, e piratas franceses, que frequentavão a costa em busca do pau brasil." (Cf. XXVI, 2° tomo, p. 124).
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Nota 29: O Barão do Rio Branco anexou, no exemplar de F. A. Varnhagen "História das lutas com os holandeses no Brasil" (1871), que lhe pertencera, uma extensa biografia de Bagnoli, com documentos que mandara copiar ou copiara na Itália. Por aí se vê que Bagnoli é uma pequena aldeia nos arredores de Nápoles, sobre a praia do mesmo nome. Aí nasceu o Conde de Bagnoli, Cujo nome constitui puro dialeto napolitano. Também escreveu sobre Bagnoli o sr. Francisco Pettinati, que lhe dedicou 156 pp. (Cf. LXVII, pp. 161227).
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