Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

Página 11


Descobrimento do Brasil

O Brasil foi descoberto pelo português Pedro Álvares Cabral, pouco tempo depois de Américo Vespúcio, isto é, no ano de 1500. Foi pelo descobridor denominado "Santa-Cruz", nome que posteriormente os portugueses mudaram para o de Terra do Brasil, devido ao lenho 1 assim chamado, que aí se encontra em grande abundância e que, desde então, passou a ser importado por toda a Europa, para tinturaria.

Sua situação

O país está situado em plena Zona Tórrida, estendendo-se até o Trópico de Câncer e a Zona Temperada.

Extensão.

Com respeito à sua extensão de norte a sul, não é pequena a discordância existente entre os geógrafos. Segundo, porém, os melhores cálculos, pode-se fixar o começo desse país a meio grau 2 de latitude norte, próximo ao rio Pará e o seu termo a 24 graus e meio de latitude sul, junto ao rio Capibarí 3, duas léguas acima da cidade de São Vicente. E assim é que, toda a sua extensão, de norte a sul, compreende 25 graus ou 375 milhas. Preferem outros situar o Brasil entre o Rio Maranhão e o Rio da Prata. Até hoje não foi possível precisar a extensão do Brasil de Leste (onde se limita com o Mar do Norte) a Oeste, por ter sido muito pequeno o número dos que puderam penetrar tão a fundo pelo interior do país. Assim, sua largura de leste a oeste pode ser avaliada em 742 milhas. Há, porém, alguns autores que estendem seus limites mais para leste, e, para oeste, mais além do Peru ou Guiana, o que representa um acréscimo de 188 milhas. Outros, ainda, situam os limites do Brasil ao norte com o Rio das Amazonas, ao sul com o Rio da Prata, a leste com o Mar do Norte e a oeste com as montanhas do Peru ou Guiana.

Sua divisão .

Com esses limites, o Brasil é dividido pelos portugueses em 14 distritos, por eles denominados Capitanias, a saber: Pará, a primeira de todas, bem ao Norte, Maranhão, Ceará, Potigí ou Rio Grande, Paraíba. Pernambuco, Itamaracá, Sergipe d'El Rei, Quirimure ou Baía de todos os Santos, NhoeCombe ou os Ilhéus, Pacata ou Porto-Seguro, Rio de Janeiro ou Niterói, São Vicente e Espírito-Santo 4.


  1. Nota 20: Marcgrave escreveu: "Haec regio primo à Lusitanis appellata fuit Santa Cruz, quod nomem postea mutarunt in Terra do Brasil,..." (Cf. LXX, liv. 8, cap. I, p. 260).

  2. Nota 21: O tradutor inglês escreveu: "may be fixed under the second degree anda half of nothern latitude near the river Para..." (p. 5, 2a coluna últ. §); cf. Edição holandesa (p. 9, 1a coluna , 1° §).

  3. Nota 22: Cf. Marcgrave (LXX, liv. 8, cap. I, p. 260).

  4. Nota 23: Essa divisão do Brasil, Nieuhof tirou-a de Marcgrave, pois os nomes estranhos que aí encontramos, como Nhoe-Combe e Pacata se encontram, também, na Historia Naturalis Brasiliae. Assim, escreve Marcgrave (Cf. LXX, p. 261): "Dividitur Brasilia, intra hos limites, in certas Praefecturas (capitanias appellant vulgo Lusitani) & quidem vulgo in quatuordecim. Quarum prima versus Boream est Para, sequuntur dehinc ordine Maranhaon, Ciara, Potiyi vel Rio Grande, Paraíba, Itamaracá, Pernambuco, Quirimure vel Bahia de Todos los Santos, cujus metropolis S. Salvador, Nhoecombe vel os Ilheos; Pacatâ, vel Porto Seguro; Espiritu Santo; Nheteroya, vel Rio de Jeneiro, quern Ganabara vulgo vocant Brasilienses; & S. Vicente". Quirimure, de que fala Nieuhof, foi, também, por outros cronistas, referida. Assim, Soares (Cf. LXXXVI, p. 223) se refere a Caramurê e Varnhagen, em nota à p. 483, acha que o nome deve estar certo, porquanto os jesuítas o repetem, escrevendo-o Quigrigmuré. Acha que se trata do mesmo local a que se referiu Thevet (f. 129), com e nome de Pomte de Crouestimourou. Não andaria, porém, já neste nome a idéia da residência de Caramurú? pergunta o Visconde de Porto Seguro. Teodoro Sampaio (Cf. LXXXI, p. 148) afirma que Quimimuras significa gente silenciosa; e esclarece que é o nome de uma tribo que habitou primitivamente o Recôncavo da Baia de Todos os Santos. Ayres de Cazal (XXVI, p. 100) escreve: "Aos antigos Quinimuras, primeiros povoadores memoráveis do contorno da enseada de Todos os Santos, sucederam os Tapuias, pouco depois expulsos pelos, Tupinás, vindos do Sertão, para onde se retiraram os segundos, que jamais cessaram de inquietar os seus vencedores". Mais explícito e preciso já havia sido Cardim (Cf. XIX, p. 179), que diz: "Outros que chamam Quirigmã, estes, foram senhores das terras da Bahia e por isso se chama a Bahia Quigrigmurê". Batista Caetano, em nota à p. 234, do trabalho do mesmo cronista, sugere a hipótese acerca da etimologia do nome. Restam, ainda, Pacata e NhoeCombe. A primeira, segundo Saint Adolphe (Cf. LXXIX, p. 187), refere-se a um rio de Porto Seguro. No Vocabulário da Língua Brasílica publicado por Plínio Ayrosa, (n. 261) S, Paulo, 1938, registra-se para a Capitania de Ilhéus o nome indígena "Nhueceebê".