Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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gávamos, finalmente, à vista do Recife. Logo depois deitávamos ferro a várias toesas de profundidade, terminando assim uma viagem de sete semanas e um dia.

Chegada ao Brasil.

Depois de render graças a Deus por nos haver livrado dos perigos do mar e da escravidão pelos turcos, desembarcamos, na mesma noite, o capitão, o comissário e eu, a fim de dar ciência de nossa feliz viagem e entregar uma carta ao Conde Maurício, e aos Altos Senhores Conselheiros. Passei aquela noite em terra, mas no dia seguinte voltei para bordo.

No dia 15 os pilotos conduziam nossa nau para o porto do Recife, onde se encontravam 28 navios e dois iates ancorados junto ao Castelo do Mar.

1643

Pelos fins de agosto de 1643 recebia eu ordens do Conselho de partir com destino à Ilha de São Tomé no iate Bruinvisch, carregado de grêda de pisoeiro a fim de permutá-la com açúcar mascavo, a principal mercadoria que de lá se pode trazer. Minha viagem resultou bastante feliz, não tendo ocorrido nenhum acidente funesto, a não ser uma tempestade violenta, com trovoadas, relâmpagos e forte aguaceiro, que desabou a 9 de setembro quando lá estávamos ancorados. O nosso carregamento não obteve bom preço. Contudo, após uma demora de 14 dias, regressamos ao Brasil com um embarque de açúcar preto, tendo chegado diante do Recife a 3 de outubro, ao cabo de uma viagem de 3 meses.

A Ilha de São Tomé

A Ilha de São Tomé tem uma configuração circular, com diâmetro aproximado de 36 milhas. Altas montanhas, no meio da ilha, têm os seus picos sempre cobertos de neve, enquanto que as regiões baixas são intoleravelmente quentes devido à sua situação equatorial. É riquíssima em açúcar mascavo e gengibre. Os canaviais são continuamente umedecidos pelo desgelo que escorre das montanhas. Pela época em que lá estive havia cerca de 60 engenhos de cana, mas, sendo o clima da ilha o mais insalubre do mundo, nenhum forasteiro se anima a permanecer em terra mais que uma noite sem correr risco de vida, pois o calor do sol faz levantar do solo evaporações maléficas que os estrangeiros não suportam. Essas emanações duram até às 10 horas da manhã, quando então se dissipam, clareando-se o ar. Por isso permanecíamos a bordo até aquela hora. Sobre o mar não existe essa neblina.

O ar é, aí, muito quente e úmido durante o ano todo, exceto no verão, pelos meados de julho 1, quando os ventos de sudeste e sudoeste amenizam bastante o rigor do clima. Os vapores produzidos pelo sol ocasionam epidemias de febres intermitentes que se caracterizam por dores


  1. Nota 12: Na ed. inglesa está junho (p. 4, 2ª coluna , 4° §) ; cf. ed. holandesa, (p. 7, 2ª coluna 2º §).