Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil

Escrito por Nieuhof, Joan e publicado por Livraria Martins

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Avistam-se dois navios turcos - Preparativos para o combate.

No dia 6, como rumássemos com vento fresco para sussudoeste, avistamos dois barcos que navegavam a todo pano em direção a nós, os quais imaginamos serem de piratas turcos, suposição que mais tarde se verificou exata. Dispusemo-nos, portanto, a nos defender até o extremo. Deram-se ordens para que se varresse o tombadilho de tudo quanto nele havia, armando-se os marinheiros com mosquetes, chuços, lanças e outros petrechos semelhantes. Logo que todos se puseram a postos, hasteamos a bandeira de guerra e, ao som dos clarins que soavam a combate, esperamos que o inimigo se aproximasse. Estando, então, muito mal o capitão do navio, devido a ferimentos anteriormente recebidos e que por essa época se agravavam, e, não podendo o comissário François Zweers permanecer no tombadilho em razão de sua avançada idade, tive eu que assumir o comando da nau, animando os homens a lutar bravamente por nossas vidas e liberdade e ordenando-lhes a não abrir fogo de forma alguma antes que o inimigo estivesse bem dentro do alcance de nossas armas, pois era maior em número que nós.

Combate com dois corsários turcos.

Por volta do meio-dia avistamos os turcos que se dirigiam a nós arvorando bandeiras cor de laranja que logo substituíram pelas de guerra. O navio maior salvou-nos com dois tiros de peça de seu castelo de proa, os quais não nos causaram grande dano, mas, ao vigésimo segundo disparo, quase despedaçou o nosso mastro principal. Nesse momento, como já nos aproximássemos de outro navio, abrimos um nutrido fogo, que os turcos se apressaram em retribuir. Pude, então, observar que o navio maior havia recebido um tiro em cheio, à meia-nau, que o obrigara a se manter à distância, a fim de poder reparar as avarias. Isso me deu certa folga, que aproveitei para levantar o ânimo da tripulação não só verbalmente mas, também, com boa dose de vinho a que os marujos misturavam pólvora. Fiz o mesmo para os estimular.

Os turcos abandonam a luta

Nesse momento o inimigo voltou à carga alvejando-nos com tal fúria, com canhões e arcabuzes, que arrancaram o teto de nossa cabine grande, danificando, ainda, a cordoalha. Troquei, então, minha cimitarra por um mosquete que passei a descarregar continuamente sobre o inimigo. Semanas depois, ainda sofria eu com um ferimento que me causou, naquela refrega, o mosquete de um companheiro. A arma lhe fora arrancada das mãos por uma bala de canhão e viera bater violentamente contra mim, atirando-me sem sentidos ao tombadilho. Momentos depois consegui, entretanto, tornar ao meu posto. Percebi, então, que o capitão da maior das naus turcas, de turbante à cabeça se achava à popa do seu barco instigando a maruja. Prontamente ordenei, aos que estavam ao meu lado, que o visassem com suas armas de curto alcance, o que imagino tenha sido feito com sucesso, pois, logo a seguir, já o não vi mais. Apesar disso cresceu de ambos os lados o calor da peleja, e, ao prolongado