CAPÍTULO IV
DO ESPASMOComo neste clima os corpos sublunares, que estão expostos às mudanças do calor diurno e do frio noturno, não recebem quase influência moderada alguma, acontece que tanto as doenças agudíssimas e calidíssimas, como principalmente as frias e crônicas, são mais freqüentes nas índias. Entre as doenças agudas, ocupa o primeiro lugar esse fatal gênero de espasmo, chamado pelos gregos (palavra grega) 1, pelos flamengos deklem; este é muito freqüente, e ataca mais rápido do que se diz a um homem de pé ou sentado e torna-o rígido como estátua, ora como o tétano, ora como o opistótono. (Vide Hoffmann, Institut., lib. 3, cap. 86.) Assim, por intervalos, o doente é puxado para trás e cai, num mísero espetáculo. Afinal, surgindo um espasmo cínico e perdida a faculdade de respirar e deglutir (creio que por causa da convulsão do diafragma e do esôfago), concorrem algumas vezes terríficos sintomas e se ouve um horrível murmúrio, ao modo dos epilépticos. Alguns são atacados mais lentamente, não sobrevindo tantos acidentes mencionados; primeiro com ranger de dentes, a seguir com distorção da boca, que se fecha de tal modo que é necessário abri-la à força e com uma sonda de ferro. Então, não raramente incorrem em perigo de asfixia e não podem reter os excrementos. São muito atingidos por esta doença, mesmo feridos mui de leve, os pescadores, ferreiros, padeiros; não só porque, molhados por muito tempo e banhados de suor, não se acautelam suficientemente do frio noturno que os acomete, mas também porque, acostumados a um alimento mais crasso e velho, incorrem em obstruções do baço um tanto graves, e daí a alguns recém-chegados acresce o calamitoso sintoma do escorbuto. (Vide Sennert.2 De oris convuls. et Scorbuto). Convém que se dê a tempo o remédio; do contrário, o doente sucumbe antes de vinte e quatro horas após a convulsão.Antes de tudo, se nenhuma grave contra-indicação se opuser, a veia deve ser incisada imediatamente; a seguir, devem-se