Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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pouco de tabaco, e de outros secativos semelhantes. Não pequeno alívio trazem as raízes masticatórias de Iaborandi. É recomendável o uso de pequenas ventosas de chifre e sanguessugas, sobretudo na cerviz. Afinal, como na Europa, aplicam na nuca sedenhos vesicatórios e fontículos. Experimentamos cotidianamente ter muita virtude o suco destilado da cheirosa flor da árvore Ibabirába e da cana de açúcar nova, quer neste mal, externo e interno, quer em outras doenças dos olhos. Aguça e fortifica a vista o orvalho simples ou diluído no alvaiade com leite de mulher; por fim, o excelente líquido, tirado dos espinhos da árvore Samouna, vertido nos olhos ou untado em redor deles. Para aquele mal externo dos olhos, com névoa, usam um ovo fresco, cozido até endurecer, ajuntadas três partes de açúcar cândi e de pó de Ibabirába e uma de vitríolo branco. Daí se extrai um líquido que se verte nos olhos do paciente, quando for deitar-se. Também serve a água Manipuéra de raiz de Mandioca, a qual, embora venenosa quando se bebe, é útil para os olhos e corrige a visão. Se o mal resistir ainda, insufle-se nos olhos do doente fumo de carvão moído da casca de Ibabirába e de tabaco; depois, mastigando-se alho em jejum e colocando-se na língua cinzas de Ibabirába, lavam-se-lhe os cílios diversas vezes. Além dos remédios há pouco referidos, os lusitanos e os bárbaros atestam que se recupera a vista comendo o fígado fresco do peixe tubarão, ou conservado num pouco de sal. J. Bôncio, falando das Índias Orientais, menciona-o. Parece dizer respeito a isso aquela sentença de Hipócrates, no tratado da vista: "Ministre-se um ou dois pedaços, tão grandes quanto se possam engolir, de fígado de boi, ensopado em mel". Aconteceu-me às vezes presenciar o feliz efeito de ambos os remédios citados. Completa-se a cura acrescendo a estes remédios uma pequena dieta, contanto que se acautele o doente, cuidadosamente, das causas externas e internas acima descritas, mesmo depois de curado, por muito tempo, sobretudo quando a doença interna ainda subsiste e o nervo ótico ainda recebe fluxos. E estes males sobretudo no plenilúnio se agravam, donde não pouco se aumentam os humores excitados; e neste tempo urge evitar as purgações da cabeça.