Esta doença dos olhos ataca os estrangeiros em todo o ano, sobretudo na estação seca, privada de águas, e pouco aos indígenas; reina agora mais raramente do que antes. Os nossos compatriotas, chegados outrora, desconhecedores do sol e do solo das Índias, ainda não tinham aprofundado as origens de muitas doenças; depois, bem instruídos, as evitaram e aprenderam a fugir aos seus princípios.A (palavra grega ver)[^nota-67] cura-se por si. Em uns, dura seis semanas e até mesmo outros tantos meses; não raro é recidiva. Duplo é este mal: externo, quando aparecem nuvenzinhas transparentes ou não transparentes; interno, quando no olho, por fora, nada aparece. Este segundo, atacando mais freqüentemente que o primeiro, é de mais difícil cura. Ambos têm por incentivo uma causa externa e interna. Os pobres e os soldados em serviço comem alimentos deteriorados, salgados, bebem águas estagnadas e vinho ardente, râncido e toldado. Eu acrescento que a intolerável irradiação do sol a pino obscurece e debilita muito a agudeza dos olhos no litoral tórrido (pois não raramente queima as plantas dos pés dos viandantes) e solve os catarros até aos nervos óticos.Como inúmeras vezes o observei nos arraiais do ilustríssimo Príncipe de Nassau. A seguir, cansados, com os poros abertos, dormindo muitas vezes ao relento noites inteiras, com a lua cheia, expostos ao vento do interior, apanham fluxos.Estes incômodos e névoas dos olhos, ao modo dos nativos costumam curar-se ou corrigir-se destarte: primeiramente, proibindo-se os alimentos que, por muito tempo guardados em depósito, contraíram bolor e mofo. Em lugar destes substituam-se os frescos, secos e temperados, porque facilmente se infeccionam os espíritos visórios com hálitos espessos e vaporosos, se o estômago está arruinado. Além disso, fogem tanto ao calor diurno e a tudo que seja mais veemente do que o natural, como ao frio noturno, que enche a cabeça. Outrossim, repetem algumas vezes os purgantes cefálicos; em seguida abrem as veias das têmporas e as de detrás das orelhas. Afinal, raspados os cabelos, fazem aspersões e usam cúcufas. Preparam, principalmente, esternutatórios do pó da árvore Ibabirába e um
Historia Natural Médica da Índia Ocidental
Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo