aplicar clisteres acres, repetidos algumas vezes. Depois, devem-se dar sudoríferos de contravenenos. Pois os sintomas e a cura provam que se trata de algo maligno. Caso a doença se dilate, atalhe-se com uma cocção de salsaparrilha, de cascas de guajaco, Iupicánga, sassafrás, Iaborandi, Betis, Nhambi, e outras ervas nativas deste gênero. Sigam-se banhos úmidos e secos, sufumigações de esterco de cavalo com a goma Anime, e aromáticos semelhantes. Depois, enxugados profundamente os suores, façam-se fortes fricções. Em seguida, unção de óleos e bálsamos adequados, nativos e exóticos, sobretudo do óleo de cascas de laranjas com suco de tabaco fresco, no pescoço, na espinha dorsal e partes vizinhas. Cubra-se bem o doente, enquanto do corpo manar continuo suor. Alimente-se repetidas vezes e aos poucos, por causa da perda das forças, e tome bebidas quentes. Não raro se vencerá a dificuldade, se observadas as recomendações precitadas; principalmente, sobrevindo febre ou diarréia, que evacue a matéria convulsiva passada dos nervos às veias. (Hipócrat., liv. IV. Aforismo 57: "Se ao doente, atacado de espasmo ou tétano, sobrevier febre, esta o livra da tal doença". E Coac, 358: "Os espasmos que sobrevêm de repente podem ser dissipados por uma febre ou por um fluxo do ventre.") Do contrário, se o médico e o próprio doente ou os assistentes, deslembrados do dever, cometerem um pequeníssimo erro, antes que o mal seja vencido, de certo morrerá o doente. Lembro-me que isto aconteceu às vezes, ficando o doente com a boca apertadamente fechada e com horríveis movimentos convulsivos de paroxismo, acompanhados de grandes dores e gritos.CAPÍTULO VDO ESTUPOR DOS MEMBROSEntre as doenças crônicas, comuns na América, encontra-se a que ataca os nervos e causa profundo torpor aos membros. Sua natureza ninguém, ao que eu saiba, descreveu. Chamam-na os lusitanos Air, porque nasce da inclemência do ar
Historia Natural Médica da Índia Ocidental
Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo