Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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minhem na sua trilha, não será difícil provocar, com euforia, os suores, nas regiões orientadas para o Meio-dia e para o clima quente. Os médicos com muitos anos de prática julgam preferíveis à triaga e sudoríferos de semelhante composição outros mais temperados e menos compostos, e a isso recorrem como a um miraculoso febrífugo, acessível a qualquer pessoa. Faz-se de água potável, um pouco de açúcar, muito suco fresco de limões bem azedos, cozidos até quase à consistência do mel; ministram-no bastante quente, de duas a três vezes ao dia, mormente no início das exacerbações. Deste modo, provocam os suores copiosamente e refreiam e acalmam pela acidez os humores fervidos e túrgidos. Eu muitas vezes o apliquei com grande êxito, tomadas algumas precauções gerais, e me sucedeu ver os estupendos efeitos de tão euporisto remédio, ajuntando-lhe sal de erva férrea ou óleo de tártaro. Embora deva ser culpado aquele fútil mau hábito de crendices, que nas Índias costuma apossar-se muito dos mortais, no concernente aos febrífugos supersticiosos, amuletos simpáticos e quejandos, contudo, mesmo constrangidos, somos obrigados a confessar haver tal força em certas coisas que resistem ao paroxismo febril sem fazer mal, e à corrupção. Não será fácil explicar como a argila corrige o azedume da cerveja; como o suco dos limões resiste, num muito espaçoso tacho, à fortíssima ebulição do açúcar; como o espírito de vitríolo misturado com sal de tártaro perde a acidez; e muitas outras coisas, que por amor à brevidade omito. Entrementes convido, se aos deuses agrada, a que me expliquem estes e outros arcanos da natureza, mencionados acima, os engenhosos e mui atentos investigadores de cousas abstrusas, os quais reputam as propriedades ocultas como asilo perpétuo da ignorância e atribuem toda causa às propriedades manifestas.Visto as perpétuas vigílias e a veemência da dor contra-indicarem os grandes remédios evacuantes, eles conciliam o sono ora por meio de soporíferos internos e anódinos, ora por externos, que devem reter os humores fluentes. Os bárbaros fazem-no com borrifação de água fria por todo o corpo, principalmente na cabeça, e com a unção de certa matéria viscosa