sos europeus, que só em jejum o fazem. Para concentrar as forças e evitar as lipotimias, usam um bocado de conserva com uma pouca de bebida fria.Raramente se utilizam das sanguessugas, que são menores que as européias; com freqüência, das escarnaduras, e então suprem a flebotomia por meio de pequenas ventosas córneas, devidamente aplicadas. Entre os americanos só existe o uso das pequenas ventosas córneas, que são bem polidas, de chifres de touros, com uma extremidade alargada e a outra com um estreito meato, aplicadas fortemente à pele, não por meio de fogo ou de água quente, mas da sucção da boca; repetem-na à vontade.Sabia Homero que aquela sucção era algo medicinal e disse que Macaonte, curando os ferimentos de Menelau, sugou-lhe o sangue e por cima espalhou medicamentos balsâmicos. Quão seguro e válido remédio seja a escarnadura contra inúmeros males, externos e internos, refere-o, além de Galeno, Oribásio,1 citando Heródoto (liv. VIII, cap. XVII). Oribásio testemunha de si mesmo que, atacado de peste, lhe foram extraídas com sucesso, por meio da escarificação, cerca de duas libras de sangue. Isto fazem os indígenas, querendo tirar sangue à pele sarjada; daí o costumar sair mais copioso sangue do que pelas ventosas. Mas quanto às grandes escarificações, sem a solução das ventosas, não acordam os brasileiros e europeus, nem no modo, nem na quantidade. Raramente usam de cutelo e lâmina, mas de espinhos de árvores ou dentes do peixe lâmia (sem estes mal se vê alguém viajar), fazendo ferimentos profundos, não nos maléolos, segundo o costume dos antigos, e nos membros da parte de fora, conforme os egípcios e outros costumam praticar, mas nas coxas, nas pernas, nos braços e em todas as partes carnosas do corpo. Por este modo tiram libras de sangue, assim como outros por meio de venessecção. E assim se afastam do sistema de escarificações e ventosas. Para aliviarem as dores da sarjadura, produzem certo estupor aos membros, antes de iniciar o trabalho, por meio de fricções e contínuas massagens com as mãos. Findo
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Nota 62: Oribásio (c. 325-400). Natural de Pérgamo (Mísh), discípulo de Zenão de Chipre. Entre suas numerosas obras citam-se: Collectanea artis medicae, Synopsis, Euporista ou remédios fáceis de preparar.
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