dantes o haviam sido, com grande mortandade dos bárbaros. Quase por igual maneira a lues contagiosa entre os animais domésticos, num inverno chuvoso, devastou alguns rebanhos. Sem embargo, nunca se descobriu que o contágio da calamidade crescesse tanto que daí tivesse surgido a peste ou doença semelhante (como acontece não só no Peru, mas em muitas partes da Ásia e da África). Julgo digno de se notar que as grandes e freqüentes disenterias nunca se tivessem tornado epidêmicas. Como se a continuidade do vento leste, que sopra do oceano, serenasse o céu e o varresse a ponto de impedir a disseminação do contágio, que é dissipado pelo quente e seco, não de outra forma que é eliminado pelo frio e seco nas zonas temperadas; ou porque os miasmas deletérios, absorvidos e vencidos pela notável pureza do ar, se não desaparecem de todo, pelo menos, destituídos de força, podem produzir aquelas moléstias nativas, mas que não se propagam. Por onde se evidencia que, quanto mais fortes são as doenças epidêmicas do que as outras moléstias vulgares, tanto maior virtude existe no ar do que na dieta e nos outros meios não naturais, para mudar o hábito do corpo e dispô-la para pior ou melhor.No plenilúnio e novilúnio, assim como em cada quarto lunar, os corpos sofrem alterações patentes. Acontece então que os médicos, a não ser por necessidade urgente, não subministram medicamentos; nesse caso a dor se exaspera e o enfermo sente-se pior. Considere-se o mesmo do movimento diurno do sol, quando, além da expectativa, se agravam pelo meio dia as doenças biliosas, e de noite as pituitosas. O movimento diurno da lua, não menos do que o mensal, suscitando mudanças evidentes, produz resultados muito dignos de observação. Os próprios enfermos atestam que, em cada seis horas, por ocasião da maré montante, a doença aumenta e a dor se exacerba; por outro lado, nas outras seis, em que o mar se retrai, o suplício a pouco e pouco diminui e se abranda. Isto se mostra nas doenças mais agudas e nas menos agudas, mormente nas que promanam dos corrimentos e da pletora. Quando crescem as águas e coincide a maré com o plenilúnio, alguns se embatem com a enfermidade de tal sorte que
Historia Natural Médica da Índia Ocidental
Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo