Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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res oriundos da falta de brisa marinha, os corpos não se constipam, mas o cérebro e os nervos enchem-se de umidade e de uliginosidade, que, com a repentina superveniência do estio, são muito prejudiciais por volta do equinócio do outono. Como o ventre não pode libertar-se do humor redundante, costuma nascer daí a hidropisia, a diarréia branca e perturbações dos intestinos. Assim, as mulheres, embora fecundas não concebem e freqüentemente abortam, ou, se acaso dão à luz, expulsam o feto com dificuldade, e um feto débil, que morrerá em pouco tempo, ou de certo será enfermiço. Isto se refere principalmente às mulheres estrangeiras. Ainda que o tempo estivai seja mais salubre do que o inverno, pois no Brasil o tempo seco prevalece sobre a umidade, contudo umas naturezas se dão bem ou mal no verão ou no inverno. Por isso as mulheres e os meninos, como seus corpos são mais pituitosos, gozam de melhor saúde no estio que no inverno. Ao invés, os corpos magros e biliosos passam melhor no inverno, pior no verão. Isto é certo em relação aos corpos intemperados que, conservando-se pelo uso moderado dos contrários, se corrompem pelos semelhantes. Costuma dar-se o contrário com os temperados.Pelo demais, o Brasil não é isento das doenças oriundas dos vapores da terra e dos lagos. Quando o céu se acha túrbido e o vento marinho é sobrepujado pelo terrestre, súbito se originam febres, catarros e rouquidões. Os íncolas atestam que, por certa vicissitude ignorada, em cada sete anos há meses invernais muito úmidos e doentios; sucedem-se-lhes outros seis mais saudáveis e secos. Achei verdadeiras e não despiciendas as suas advertências. Esta terra sempre foi tida por imune das doenças chamadas epidêmicas e que flagelam em certos tempos, devido a uma funesta qualidade que se prende a causas diversas, ou pelo influxo dos malignos astros. No ano de mil seiscentos e quarenta e três, num verão muito seco, apareceram antrazes não fatais. São aqui desconhecidas as varíolas pestíferas, que Próspero Alpino afirma grassarem entre os meninos, no Egito, duas vezes por ano. Somente uma vez, no decurso de trinta anos, os escravos africanos, importados já variolosos, contaminaram os que nunca