fria, bebem largamente espírito de vinho, com medo das indigestões. Como se houvessem necessidade de um veículo deste gênero, e nada sofressem destes dois contrários o tono do coração e as outras vísceras. Ora a multidão promíscua de africanos e europeus enche-se da bebida cheirosa e muito familiar chamada Garapa, que os taberneiros, ávidos de lucro, preparam com açúcar preto e água, e, apenas defecada, vendem a baixo preço, ajuntando-lhe as folhas da árvore Acajuéra, pelo calor das quais os vapores são excitados, produzindo-se mais depressa a embriaguez. Contudo, pode tolerar-se, se tomada com moderação, e bem feita, e antiga. Os sãos e os doentes consideram entre as coisas deliciosas outra bebida preparada de água potável, açúcar e limões. Tal como aquele licor que Lucano mencionou ser usado entre os povos da Índia: "Bebem os suaves sucos da tenra cana".1 Alguns recomendam muito, sem mais razão, como mais salutar nestas plagas, a cerveja européia, o vinho de absíntio e o espírito de vinho. Em todas as Índias deve ser preferido aos outros vinhos europeus o crético, porque em si não contém composições. Mas tome-se um pouco de tarde, e nada de manhã. Não pouco erram os que nas regiões tórridas o bebem algo mais do que se deve. Porque nunca se verificou que o excesso de bebida um tanto fria prejudicasse tanto quanto a de uma mais quente, apesar das objeções dos pretensiosos; e parece-lhes diferentemente, por causa do mau vezo e da intemperança já adquirida pelo hábito do vinho. O seu estômago, fatigado em virtude do esgotamento do calor nativo, e também do que a ele chega das outras partes, obriga-os a tomar vinho e a perseverar no seu uso. Confirma-o também Galeno (De sanitate tuenda, liv. V, cap. XII). Consta que o espírito destilado do vinho ou dos sucos dos frutos esquenta e resseca, sobretudo quando a pituíta crua e as impurezas feculentas não apresentam alimento suficiente, em que sua força muito acre e abrasadora se enfraquece. E então inflama as vísceras, tira o apetite e a pouco e pouco, pelo excessivo hábito, acelera os funerais antes da morte, como milhares de vezes (Oh! lástima!) se observa nas Índias. Pelo contrário, é dado como remédio aos enfermos do espírito e do corpo
-
Nota 49: Fars., III, 237.
↩