Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

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o conhece, e os animais, entretanto, sentem-lhe bom odor, mesmo ainda despercebido dos homens, e se deliciam muito com o seu sabor.Descrito o uso cotidiano das carnes, resta falar agora sobre os peixes. Duvido que possa haver região mais fértil do que esta pela preciosidade e quantidade de seus peixes. No mar, nos rios e lagos piscosíssimos há, em abundância, todo o gênero de peixes escamosos, ásperos, lisos, moles e cartilaginosos, cônicos. Por isso os ádvenas e os primitivos íncolas, sãos e doentes, são perpétuos ictiófagos. Pois não só pelo esgotamento das provisões se utilizam deles como de principal sustento, mas também, como os romanos, estimam-nos acima das outras iguarias deliciosas. Dentre estes peixes, os melhores sem dúvida são: os ciprinos, as mugens, as tincas, as carpas, as trutas, as douradas, os lobos-marinhos e ate os próprios aselos, rivais dos europeus na forma e no gosto. Ainda os orbes, os linguados, as sardas, as agulhas, as raias de diversa espécie. Produzem muitos caranguejos, tartarugas, camarões, lagostas, conchas, ostras, e todos os testáceos e crustáceos, principalmente as lagoas, quando são dessecadas pelo afastamento do mar. Por fim os congros, os sargos, as enguias e outros do mesmo gênero, dos quais deixo de falar.Os peixes que, vivem na superfície do mar são apanhados de preferência nos meses chuvosos, porque gostam das chuvas; porém, em quase todo o ano, sobretudo no verão, os pescadores armam ciladas aos que estão no fundo dos rios e do mar; nesta época, em busca de melhor alimento e pelo receio do calor, eles procuram as tocas próximas aos rochedos, onde encontram alimentação mais saudável, sendo por isso chamados peixes das pedras e do fundo. Em um dos livros seguintes se verão os nomes, as gravuras, as diferenças e propriedades dos principais.Nas baías e nos lagos, os peixes não são inferiores aos marinhos em quantidade e variedade, porque, embora indistintamente procriem e cresçam uns mais depressa do que os outros, nos lagos e nos rios isto costuma acontecer mais rapidamente do que no próprio mar. Conquanto estes sejam considerados como inferiores aos marinhos e fluviais, contudo em qualidade