Historia Natural Médica da Índia Ocidental

Escrito por Piso, Guilherme e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. Universidade de São Paulo

Página 59


turidade. Donde passou o provérbio: "Não entra médico nas casas em cujo vestíbulo se vêem pela manhã muitas cascas de laranja". Deve-se evitar cautelosamente que se colham frutos antes que os raios solares os purifiquem das exalações noturnas. É preferível que, excetuados os adstringentes, sejam servidos antes a que o sejam depois da refeição, e condimentados com açúcar de preferência a crus. Pois muitos deles são de pouca duração e facilmente se corrompem, sobretudo para os que têm o estômago fraco e delicado. Eu, seguindo Galeno, sempre aconselhei aos amigos que raramente se deliciassem com os frutos de pouca duração, donde lhes adveio grande e longo proveito. São principalmente de uso cotidiano (os outros dizem respeito à História Natural) o Ananas, a Mangába, o Acajú, o Araçá maior e menor, a Guajába, várias espécies de Murucujá, a Ibapitánga, a Masarandíba, o Acajá, o Araticú Guiticarói, a Biringéla, o Pinoguaçú, os Cocos, a Banána, a Pacóba e os figos silvestres. Todos estes são considerados indígenas e a maior parte deles nascem espontaneamente; alguns são cultivados nas hortas, pelos batavos e lusitanos, com um resultado tão feliz que os frutos perdem o preço. Entre as plantas subterrâneas, estão as raízes Patátá e Umbú, e as glandes americanas Munduy, de ótimo sabor e nutrição, e delícias da sobremesa. Não longe do litoral, nos lugares arenosos e encharcados de salsugem, tão espontaneamente brota certo gênero de belroega e couve-marinha ou soldanela, que fornecem saladas diárias.Entre as feras há muitíssimas que podem servir de alimento. Os javalis maiores e menores, com umbigo no dorso, são considerados de carnes ótimas e salubérrimas. Os porcos anfíbios chamados pelos lusitanos Capiverres, posto que inferiores aos outros em qualidade, proporcionam bom alimento a coortes inteiras de soldados e de bárbaros. Diga-se o mesmo dos ouriços. As antas lucífugas, animais de estranho aspecto, lembram as carnes bovinas. As cabras, as lebres e coelhos não ficam aquém dos europeus. Finalmente, os tatus, cobertos de couraça, de vária espécie, e os notáveis lagartos, viciosamente chamados Leguána, são servidos entre as finas iguarias. E não somente estes, mas outros, silvestres e domes-